Um mórbido e estranho fascínio pelo Titanic, uma paixão desmedida pela aventura, uma necessidade incontida de desafiar os próprios limites, de ousar e ir sempre além, muitas vezes sem pesar os riscos pelo caminho. Elementos determinantes para o destino trágico dos tripulantes do submersível Titan, que implodiu no último dia 18, cerca de 1 hora e 45 minutos depois de iniciar a descida de 3.800m no Atlântico Norte.
Talvez as características não se encaixassem muito bem no mais jovem, Suleman Dawood, 19 anos, filho do executivo bilionário Shahzada, 48, um dos homens mais ricos do Paquistão. Suleman, que teve o lugar no Titan cedido pela mãe, estava apavorado, momentos antes da viagem sem volta, segundo relatos de familiares.
Paul-Henry Nargeolet, o maior especialista em Titanic, era totalmente acostumado à jornada até os restos do transatlântico. Esteve lá por mais de 30 vezes. "Ele está no lugar que mais ama", resumiu a filha Sidoni Nargeolet, 39.
O britânico Hamish Harding, empresário da indústria da aviação, havia mergulhado nas Fossas Marianas, o ponto mais profundo dos oceanos, cruzado ambos os polos da Terra e visto o planeta do alto a bordo da Blue Origin, a espaçonave criada pelo magnata Jeff Bezos. O quinto tripulante do submersível era Stockton Rush, dono da OceanGate e responsável direto pelo Titan.
Ao que tudo indica foi uma tragédia anunciada. Rush desprezou alertas sobre a segurança vulnerável do Titan, construído com uma mistura pouco comum de titânio e fibra de carbono. Em vídeo, zombou de regulações que, tivessem sido seguidas, talvez tornassem a jornada até o Titanic mais segura. Os tripulantes assinaram um termo de responsabilidade bastante questionável, no qual isentavam a OceanGate, inclusive de morte produzida por eventual negligência da companhia.
Talvez a curiosidade e a tal paixão inexplicável pelo Titanic tenham levado Paul-Henry, Hamish, Shahzada e Suleman a ignorarem todos os riscos, talvez pelo fato de algo tão terrível jamais ter ocorrido com o submersível.
Na viagem que antecedeu a trágica jornada, o empresário Arthur Loibl, que tinha pagagado US$ 150 mil, ficou preocupado com recentes falhas no sistema de navegação. Em entrevista ao Correio, relatou o extremo desconforto a bordo do Titan e sugeriu que seriam necessários mais uns dois anos até que a OceanGate fosse capaz de oferecer a viagem perfeita até o Titanic.
Se não tivesse embarcado no Titan, provavelmente Stockton Rush estaria preso. A ganância cobrou o preço de cinco vidas, incluindo a dele mesmo. E impôs luto às famílias que perderam pais, maridos e filhos.