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Artigo: Paris numa garrafa

Dr. Ulysses Guimarães, de saudosa memória, era o homem das frases surpreendentes. Ele disse certa vez que, com a partícula se, é possível colocar Paris dentro de uma garrafa

Dr. Ulysses Guimarães, de saudosa memória, era o homem das frases surpreendentes. Ele disse certa vez que, com a partícula se, é possível colocar Paris dentro de uma garrafa. Lembrei dessa sentença do inesquecível líder brasileiro quando vi os mais recentes resultados da economia brasileira. A inflação caiu, está em torno de 5%, a bolsa de valores ultrapassou os 120 mil pontos e o dólar está na faixa de R$ 4,78. A dívida interna não explodiu, o desemprego diminuiu e os números de exportação e importação ficaram muito acima das previsões.

Boas notícias. Porém, se levarmos em consideração as previsões feitas por renomados economistas, profissionais que trabalham no mercado e mesmo instituições internacionais, os números são absolutamente desconexos. O FMI divulgou sua previsão de que a economia brasileira deveria crescer 0,7%. Economistas no início deste ano falavam em1% ou no máximo 1,2%. Agora fala-se em 2% ou 2,3%. Erro de mais de 100%. Equívocos muito elásticos para profissionais do ramo. Parecem apostas, desejos ou lances destinados a obter ganhos em algum tipo de bolsa.

Os economistas costumam fazer projeções com base na expressão latina ceteris paribus, ou seja, se todas as circunstâncias se mantiverem estáveis no futuro próximo. Mas o mundo é dinâmico. A natureza está em constante mutação. As sociedades não ficam estacionadas. Elas evoluem para um lado ou outro. Os negócios não param. É impossível que todos os ingredientes de uma sociedade permaneçam estáveis durante determinado período. Boa parte dos erros decorrem dessa percepção. Os outros resultam de má-fé cínica ou obtusidade córnea.

As previsões são tão equivocadas quanto a daquele diretor da IBM que garantiu que no futuro só haveria meia dúzia de computadores. Seriam máquinas enormes atendendo a governos ou grandes corporações. Os supercomputadores existem, mas os pequenos são equipamentos obrigatórios em casa, no escritório ou na escola. O Banco Central, que está no centro das críticas por causa da elevada taxa Selic (13,75%), é o responsável pelos bons números da economia e a queda da inflação. Seu presidente não coloca Paris dentro de uma garrafa e mantém a sua obstinada luta contra a inflação apesar do esperneio dos petistas.

Outro tipo de previsão é a que agora passa a ocorrer no cenário político. Segundo os analistas e observadores, a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro será decidida pelo Tribunal Superior Eleitoral. O julgamento teve início na semana passada e poderá continuar por mais duas sessões, caso nenhum ministro peça vista. Se pedir, a decisão ficará adiada por 60 dias. No período do recesso do Judiciário, o prazo não conta.

Nesse caso, a conclusão do julgamento ficaria para algum dia de setembro ou outubro. A decisão, segundo observadores, está definida. Ele deverá ser considerado inelegível pelos próximos oito anos. A próxima eleição presidencial começa, então, a ser jogada a partir da decisão do TSE. O bolsonarismo sem Bolsonaro deverá sofrer dificuldades eleitorais relevantes e enorme queda de prestígio popular. O filho deputado Eduardo perdeu mais de um milhão de votos em São Paulo e o filho senador, Flávio, desistiu de sua candidatura a prefeito do Rio de Janeiro. O cenário já não é tão favorável quanto foi naquele ano de 2018, quando a forte campanha pelas redes sociais contra os políticos teve rápida e positiva resposta do eleitorado brasileiro. O tempo mudou.

Se Lula não postular a reeleição, como já disse, o possível candidato será o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele não é um petista raiz, mas tem a confiança do presidente da República. Suas chances estão conectadas ao êxito de sua ação no comando da economia brasileira. Se a inflação cair e os empregos voltarem, ele será um fortíssimo candidato. Mas não se deve esquecer das possibilidades de Geraldo Alckmin, experiente, habilidoso, representante da indústria e com relevante força política em São Paulo.

Mas o centro e a direita no país, que já se mostraram fortes e atuantes, poderão ter fortes candidatos na pessoa de Tarcísio Freitas, governador de São Paulo, do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, do governador Paraná, Ratinho Junior, ou do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Será uma boa disputa entre eles para afinal surgir o candidato de oposição ao governo. A nova geração de políticos e partidos brasileiros não guarda mais nenhuma conexão com aqueles que fundaram o que se chamou de Nova República. Outra geração está emergindo. Bolsonaro, como um cometa, surgiu com incrível velocidade, provocou estragos por onde passou e vai se perder nas profundas da história do Brasil.

 André Gustavo -  STUMPF Jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

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