Karoline Verri, 17 anos, e Luan Augusto, 16, não tiveram a menor chance. Surpreendidos num local onde deveriam estar seguros — a escola —, foram alcançados pela violência. A adolescente morreu durante o ataque a tiros; o namorado, na madrugada do dia seguinte. Ambos atingidos na cabeça. Atrocidade que devastou duas famílias, causou uma tristeza profunda na cidade de Cambé, no Paraná, e estarreceu o país.
Ex-aluno da escola, o assassino, 21, não fez mais vítimas porque foi dominado. A polícia apreendeu a arma usada nos crimes, carregadores, uma machadinha e um caderno com anotações sobre ataques a colégios. O atirador alegou, em depoimento, ter sofrido bullying quando estudou na escola de Cambé. Disse que queria matar o máximo de pessoas possíveis, que não conhecia as vítimas e que planejou o ataque por quatro anos. Na noite de terça, ele foi encontrado morto na cela que dividia com um suspeito de ter ajudado a organizar o ato de violência. As circunstâncias ainda estão sendo apuradas.
A barbárie mantém a tendência de alta de ataques a colégios no Brasil, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz. Nesses seis primeiros meses, foram sete. Em 2022, houve seis; e em 2019, três. A ONG contabilizou 25 casos desde 2002, com 139 vítimas — 46 delas não resistiram. Em 48% dos casos foram usadas armas de fogo, que provocaram 76% das mortes. "Os números revelam o caráter ainda mais destrutivo dos massacres com uso de armas de fogo: os ataques a tiros geraram três vezes mais vítimas fatais do que as ocorrências com armas cortantes ou perfurantes", ressalta o instituto. Por armas brancas, houve 10 casos, com 11 mortes (24%).
O governo diz estar agindo para combater essa chaga. Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, desde abril, a Operação Escola Segura deteve 368 pessoas. A pasta também mantém o monitoramento das ameaças feitas via internet e disponibiliza canal para denúncias: https://www.gov.br/mj/pt-br/canais-de-denuncias/escolasegura. Em outra frente, o Disque 100 começou a receber registros de ameaças, pelo WhatsApp é (61) 99611-0100. Ante um problema tão complexo, porém, é preciso fazer mais, de orientações a familiares, alunos e educadores a políticas públicas realmente eficazes na prevenção da violência.