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Artigo: Pix além das fronteiras

O Banco Central americano prevê lançar em poucos meses o FedNow, serviço de transferências instantâneas via bancos, muito semelhante ao nosso Pix

O Banco Central americano prevê lançar em poucos meses o FedNow, serviço de transferências instantâneas via bancos, muito semelhante ao nosso Pix. A novidade talvez pudesse passar despercebida no Brasil se alguns canais relevantes da imprensa não tivessem mencionado que sim, o FedNow é inspirado exatamente no pioneiro serviço de pagamentos brasileiro. E a inspiração não é fruto do acaso.

Ela reflete a projeção do Brasil na transformação digital do setor financeiro, provando que, ao fazer a coisa certa, nos tornamos referência para mudanças, inclusive em economias maiores do que a nossa. O uso do Pix nos Estados Unidos (EUA), como possível inspiração, tampouco, é fato isolado. Acompanha a recente consolidação do nosso país como celeiro de organizações hábeis em inovar na relação das pessoas com suas finanças.

Uma dessas empresas é um famoso unicórnio brasileiro que se lançou como instituição de pagamento, oferecendo cartão de crédito. O negócio alcançou com robustez um complexo patamar de serviços que, antes de se tornar oficialmente um banco digital, era assim reconhecido no exterior. Nos EUA, cheguei a frequentar conferências para mais de 5 mil pessoas em que essa marca era mencionada por altos executivos em auditórios gigantescos como um fenomenal case de sucesso.

O mundo tem olhado para a América Latina e, em especial, para o Brasil como um ambiente muito prolífico para soluções digitais. No nosso caso, as fintechs representam mais de 10% de um universo de cerca de 11 mil startups, segundo dados recentes da Distrito. Além de simplificar processos, focam no elevado índice de desbancarizados do país e no potencial número de consumidores. Ganham força em um segmento de instituições financeiras convencionais de características propícias ao seu crescimento.

No Brasil, fintechs brotam com rapidez por necessidade. Os EUA, por exemplo, têm uma regulamentação diferente da nossa, que distribui licenças regionais aos bancos interessados. Por isso, há os que atuam somente na Califórnia, ou em Nova York, na Flórida e nos demais estados. O modelo é um dos responsáveis por ajudar a disseminar as instituições bancárias e pelas mais de seiscentas marcas desse segmento em território americano.

No Brasil é o contrário. As licenças são nacionais e os grandes bancos têm extensa capilaridade. Os poucos que existem alcançam dos grandes centros aos municípios mais remotos. Com menor concorrência, oferecem menos possibilidades, o que cria diversas lacunas de serviços. Um ambiente bastante fértil para o nascedouro das famosas fintechs.

Um dos próximos desafios envolve fortalecer essas nossas conquistas do digital. Como o universo da tecnologia se expande o tempo todo, é preciso manter a predisposição de investir em inovação e fomentar uma cultura que a encoraje. Parece que estamos no caminho. Há alguns anos, o Brasil se destaca no investimento em tecnologia da informação. Para completar, um estudo da IBM indica que 78% dos executivos brasileiros planejam investir em tecnologia em 2023, percentual superior ao de países como Alemanha, EUA, Japão e Reino Unido.

Um dos principais diferenciais do FedNow é que os produtos de pagamentos instantâneos disponíveis hoje nos EUA são controlados por alguns bancos privados, o que traz uma série de limitações no serviço e na disponibilidade. O novo produto é mais democrático nesse sentido.

A conversa em todo o mundo, agora, é sobre ampliar fronteiras, como na criação de uma espécie de Pix internacional, integrando sistemas de pagamentos em dezenas de países, com praticidade no câmbio e na segurança. A autoridade monetária brasileira está em conversa com seus pares em outras nações. O Brasil ainda tem muito a inspirar.

VIVIAN PORTELLA - CEO do IZZI Remessas

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