Políticas Públicas

Artigo: É possível erradicar a fome?

Alcançar o objetivo proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) para acabar com a fome e garantir a segurança alimentar a todas as pessoas do planeta tem se tornado cada vez mais difícil

Alcançar o objetivo proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) para acabar com a fome e garantir a segurança alimentar a todas as pessoas do planeta tem se tornado cada vez mais difícil. O chamado ODS 2, que foi definido em 2015 e prevê ainda a melhoria da nutrição e o desenvolvimento da agricultura sustentável, tem a ambiciosa — porém necessária — pretensão de ser cumprido até 2030.

O problema é que, em vez de avançarmos para atingir essas metas, estamos regredindo, conforme apontam estudos recentes da ONU. Um deles é o Relatório Mundial sobre Crises Alimentares, divulgado no último mês, que indica que 258 milhões de pessoas em 58 países sofreram de insegurança alimentar em 2022, sendo o número mais alto registrado em toda a série histórica.

As explicações para esse crescimento são várias e vão desde consequências da pandemia de covid-19 e intensificação de mudanças climáticas até conflitos entre países, como o da Rússia com a Ucrânia, que era a maior fornecedora de fertilizantes do mundo antes da guerra. Esse é um grande exemplo de como um conflito que, à primeira vista pode parecer distante da nossa realidade, na verdade, causa impactos em todo o planeta.

O recente relatório da ONU também é alarmante quando tratamos de grupos vulneráveis, uma vez que mais de 35 milhões de crianças menores de cinco anos tiveram desnutrição aguda em 2022. É ainda mais preocupante constatar que, além de estarmos longe de alcançar o ODS 2, temos grandes dificuldades para cumprir os outros 16 objetivos propostos pela organização em 2015, como o ODS 1, cuja meta é a erradicação da pobreza em todas as suas formas.

No que diz respeito à fome, a questão não é apenas a carência de alimentos que parte da população sofre, mas também a má qualidade dos alimentos fornecidos. Além disso, é preciso termos em mente que há uma série de estágios que demonstram o acesso inadequado aos alimentos, englobando desde o nível mais crítico de privação de comida até a insegurança alimentar moderada.

Essa última definição indica a falta de acesso consistente e permanente aos alimentos, fazendo com que as pessoas atingidas tenham que reduzir a qualidade ou a quantidade dos gêneros alimentícios consumidos. A insegurança alimentar é um grave problema também no Brasil, como podemos observar por meio de outro estudo da ONU. Considerando a média entre 2019 e 2021, 61,3 milhões de brasileiros sofreram de níveis moderados ou graves de insegurança alimentar.

Diante disso, esbarramos num ponto bastante delicado, o de que uma cesta básica atende uma família de quatro pessoas por cerca de uma semana apenas, levando em consideração a quantidade média do consumo das famílias. É por essa razão que, dentre as campanhas de doação abertas a cada mês na plataforma Conecta Brasil, as cestas básicas costumam representar mais de 90% dos pedidos.

Enquanto organização da sociedade civil (OSC), o Conecta Brasil tem o objetivo de impulsionar a cultura de doação e a maioria das cerca de 500 instituições cadastradas no site buscam contribuir para cumprirmos as metas do ODS 2. É por meio de ações coletivas e individuais que teremos condições de reduzir a distância para a erradicação da fome e promover um desenvolvimento realmente sustentável.

Isabela Mendes - Analista de ações sociais do Instituto Conecta Brasil

 


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