O anúncio da chegada do El Niño, em 8 de junho, pode representar, ironicamente, um jato de água fria nas perspectivas de crescimento da economia global e, consequentemente, da economia brasileira. Isso porque o efeito climático, marcado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, provoca alteração nas temperaturas e nas chuvas em todo o mundo. No Brasil, o fenômeno é marcado por temporais na Região Sul, em partes do Sudeste e do Centro-Oeste, e secas mais rigorosas no Norte e Nordeste. Esses efeitos podem causar perdas para o agronegócio que, nos últimos três anos, se beneficiou de La Niña, que no Brasil representa chuvas abundantes.
Ainda não é possível estimar perdas, uma vez que elas dependem da intensidade das secas ou das enchentes. Mas é certo que o governo poderá ser obrigado a socorrer os agricultores, principalmente os familiares, em caso de efeito severo das mudanças provocadas pelo El Niño. Deverá estar preparado também para socorrer cidades e cidadãos afetados por chuvas intensas e riscos de desmoronamento de encostas, como também os que forem atingidos por estiagens prolongadas.
O governo deve estar atento para evitar que eventuais quebras de safra, seja no Brasil, seja em outras regiões do mundo, desestabilizem os preços dos alimentos no mercado nacional, causando um efeito indesejado sobre a inflação justamente no momento em que ela cede e abre espaço para o corte de juros. As previsões são de que o fenômeno climático possa causar situações extremas, com as temperaturas do planeta batendo recorde no próximo ano. Esses efeitos devem se prolongar pelos próximos dois a sete anos, se tornando mais intensos a partir de agosto ou setembro.
Embora não existam levantamentos sistemáticos dos impactos econômicos do El Niño no Brasil, um estudo divulgado recentemente conduzido por pesquisadores da Universidade Dartmouth (EUA) mostra que os efeitos e os custos do fenômeno podem durar por vários anos, elevando as perdas. O estudo divulgado na revista Science estima que os custos do El Niño neste século podem chegar a US$ 83 trilhões (R$ 413 trilhões). Até o fim desta década, serão R$ 3 trilhões (R$ 14,7 trilhões) de perdas.
A base da pesquisa foi medições das consequências do fenômeno em 1982 e 1983, e entre 1997 e 1998, entre os mais intensos registrados. O resultado foi a apuração, respectivamente, de perdas de US$ 4,1 trilhões e US$ 5,7 trilhões (R$ 28 trilhões). De acordo com os pesquisadores, países equatoriais, como Brasil, Indonésia e Equador, enfrentaram, respectivamenteo, redução entre 5% e 19% da riqueza nos anos seguintes a 1997 e 1998. Isso porque a economia mundial registra desaceleração por até cinco anos após o evento climático.
As águas do Pacífico estão aquecendo e as chances de que o El Niño se confirme a partir de setembro são de 80%. São previsões e há os que digam que elas podem não se confirmar, mas com as mudanças climáticas é necessário que agricultores e psicultores se preparem para efeitos mais severos e evitem ser surpreendidos. No governo, da mesma forma, é preciso que o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o Ministério da Agricultura e Pecuária monitorem os efeitos e deem suporte aos produtores rurais, a fim de inimizar as perdas, principalmente com as chuvas torrenciais, que envolvem vidas. É preciso se antecipar ao El Niño, para atravessá-lo com o menor prejuízo possível.
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