As boas notícias vindas da inflação têm levado os analistas a reverem, sistematicamente, as projeções do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para baixo. A mais recente pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central, aponta, agora, para uma taxa de 5,42% neste ano (ante 5,69% de sete dias atrás) e de 4,04% em 2024 (contra 4,12% no levantamento anterior). Diante desse quadro bastante benigno, o Comitê de Política Monetária (Copom) se sentirá mais confortável para dar início ao movimento de corte da taxa básica de juros (Selic), de 13,75% ao ano. Se não for na reunião de junho, certamente em agosto o alívio no custo do dinheiro virá. Não há mais nada que justifique tanto conservadorismo por parte do BC. A economia demanda mais créditos a custos menores.
Fez muito bem a autoridade monetária ter agido rapidamente para conter o surto inflacionário ainda no governo passado. O custo de vida passou de 10% ao ano, punindo, especialmente, os mais pobres. Houve críticas à ação da instituição, mas o tempo foi suficiente para reforçar o quanto estava no caminho certo. Agora, assim como foi um dos primeiros bancos centrais do mundo a elevar os juros, o BC brasileiro estará na linha de frente daqueles que estão aptos a anunciarem quedas nas taxas. Não se deve, porém, esperar uma baixa agressiva da Selic. Todo o processo se dará de forma cautelosa, para que nada dê errado. Os juros básicos devem encerrar 2023 entre 10% e 11% anuais.
Com inflação não se brinca. E, diante do histórico do Brasil, esse alerta deve ser mais contundente. Foram décadas de descontrole nos preços, que levaram vários planos econômicos ao fracasso. Felizmente, desde 1994, quando foi editado o Plano Real, o país vem buscando consolidar os ganhos da estabilidade monetária. Nesse período, houve soluços do IPCA, seja por choques externos, seja por aventuras do governo de plantão. A forte convicção da sociedade em não abrir mão de suas conquistas, no entanto, recolocou, com muito custo, a inflação nos eixos. É o que se vê agora, ainda que todos anseiem por um crescimento mais acelerado do Produto Interno Bruto (PIB).
Nenhuma instituição está livre de críticas, e isso vale para o Banco Central, quando o conservadorismo é marcado pelo excesso, com custos para a atividade e o emprego. Nada que impeça uma correção de rumos, que, acredita-se, está a caminho. Vale reforçar que o Conselho Monetário Nacional (CMN), ao definir as metas de inflação, impôs uma missão dura para o BC: o centro da meta deste ano é de 3,25% e o de 2024, de 3%. São números ambiciosos, mas condizentes com o que prevalece nos países desenvolvidos e na maioria das economias emergentes, como o Brasil.
Muitos questionam se, em vez de um arrocho tão forte nos juros, seria melhor mudar as metas de inflação. De forma alguma. Foi justamente por, no passado recente, o Brasil ter optado por saídas fáceis que o custo de vida disparou e a economia degringolou. O país deve cumprir à risca os compromissos assumidos com a sociedade em torno da estabilidade de preços. Quando impera a confiança, os agentes financeiros respondem financeiramente. Tanto que o dólar está sendo negociado próximo a R$ 4,80 e a Bolsa de Valores se posiciona na casa dos 117 mil pontos.
Iniciado o afrouxamento monetário, o governo não terá mais desculpas para atribuir ao Banco Central a culpa pelo baixo crescimento do PIB. Os formuladores da política econômica terão de lançar mão de medidas efetivas para incrementar a produção e o consumo. O Brasil não pode se contentar com avanço médio anual da atividade abaixo de 2%. Para saltos maiores, a receita passa por ações inovadoras, voltadas para a nova economia. Não cabe, em hipótese alguma, manter os pés no atraso, privilegiando setores ineficientes. O compromisso é com o futuro.