Não é fácil implementar uma agenda ambiental, mesmo para um governo que incluiu o tema em sua lista de prioridades. Setores econômicos poderosos juntaram suas fortunas, ao longo das últimas décadas, com a exploração desregulamentada e predatória dos recursos naturais. O conflito ficou escancarado com a tentativa - bem-sucedida, diga-se de passagem - de desmonte do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério dos Povos Indígenas. Também vieram à tona o embate entre a Petrobras e o Ibama pela exploração de petróleo na Foz do Amazonas, e a proposta inicial do governo de baratear os carros populares. As críticas recebidas de ambientalistas, pelo menos em parte, fizeram o governo mudar o foco do programa dos carros para os veículos maiores, voltados ao transporte público.
Se nos anos 1990 havia uma preocupação com o desenvolvimento de tecnologias e processos que fossem menos agressivos ao meio ambiente, hoje em dia a discussão sobre o tema é completamente política. Nós temos alternativas aos combustíveis fósseis que já são competitivas, como as placas solares e as turbinas eólicas. Temos o conhecimento sobre métodos eficientes de fiscalização, e equipamentos para monitorar o desmatamento em tempo real, via satélite. É possível até embargar à distância as propriedades que derrubam a mata de forma ilegal, ferramenta que está auxiliando o Ibama a frear a destruição da Amazônia desde janeiro.
Não há falta de conhecimento, profissionais qualificados nem de tecnologia. Há uma barreira política enorme de interesses. Quem perde na transição para uma economia verde são as empresas que se consolidaram poluindo os rios, matas e o ar. Quem ganha é a população mais vulnerável, que comprovadamente é a mais afetada pelos desastres naturais gerados pelas mudanças climáticas.
O que falta é o governo, o qual se elegeu com a agenda ambiental, decida enfrentar a inevitável briga política. Lula corrigiu o rumo ao anunciar, no início da semana passada, uma série de medidas de preservação, e ao dar destaque à atuação da ministra Marina Silva, alvo de tentativa de fritura. O gosto que ficou, porém, foi amargo. Até que ponto a administração pública ficará refém dos setores que atrasam a implantação de medidas que, sabemos, são a única forma de evitar um desastre maior do que o que já está no horizonte? Se isso se manter, o Brasil pode perder o status de país "abençoado", sem grandes desastres naturais como os causados por terremotos e furacões em outras partes do globo. Enchentes e queimadas podem ser tão graves quanto.
Saiba Mais
-
Opinião Artigo: Disciplina e limite na medida certa
-
Opinião Artigo: Anistia a partidose a morfina
-
Opinião Artigo: Fungos ameaçam a saúde e a segurança alimentar
-
Opinião Visão do Correio: O olhar de Pelé para as crianças continua atual
-
Opinião Artigo: Dione, as cartas para o futuro e 20 anos das cotas na UnB