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Artigo: Final das arábias e da China

"Ambiciosa, a Uefa pretende peitar o Super Bowl, a tradicional final do futebol americano. O faturamento só cresce"

A final da Uefa Champions League neste sábado, às 16h, no Estádio Olímpico Atatürk, em Istambul, na Turquia, é um retrato mais do que fiel de um mundo da bola globalizado, pós-moderno, sem fronteiras dentro e fora das quatro linhas. Uma Torre de Babel!

O Manchester City é um clube-estado inglês bancado com dinheiro do City Football Group Limited, uma multinacional de xeques dos Emirados Árabes Unidos. Tem um técnico com origem na separatista Catalunha, Pep Guardiola, e um protagonista norueguês nascido na terra do Rei Charles II quando o pai dele, Alfie Haaland, defendia o Leeds United. A família retornou ao país escandinavo e o pequeno Haaland foi criado em Bryne — onde iniciou no futebol.

A Internazionale tem como acionista majoritário a firma chinesa Suning Holdings Group. A multinacional é proprietária de 68,55% do clube outrora comandado com mão forte por Massimo Moratti. Outros 31,05% dos papéis pertencem à LionRock Capital, uma empresa com sede em Cingapura, e forte presença em Oxford, no Reino Unido. O italiano Simone Inzaghi comanda o time candidato ao tetracampeonato europeu (1962, 1963 e 2010), mas o elenco tem jogadores de países periféridos como a Armênia e a Albânia, nações dos meias Henrikh Mkhitaryan e Kristjan Asllani, respectivamente.

Bata tudo isso no liquidificador e deguste a salada de fruta da segunda final de Champions League disputada na Turquia. A outra rolou em 2005 na incrível virada do Liverpool contra o Milan no mesmíssimo Estádio Olímpico Atatürk. Por sinal, a arena fica na banda europeia da Turquia separada pelo Estreito de Bósforo. Do outro lado fica a parte asiática da nação.

Uma decisão exótica como essa pede uma final inédita. Mais: um duelo inusitado. Manchester City e Internazionale jamais se enfrentaram. Nem em amistoso. Gigante com três títulos europeus, a pesada camisa do time italiano é desafiada pelo favoritismo de uma candidato a quebrar tabu de 10 temporadas.

A Champions League não consagra um campeão inédito desde a conquista do Chelsea nos pênaltis contra o Bayern, na Allianz Arena, em Munique, na temporada de 2011/2012. Nesse mesmo intervalo, a América do Sul testemunhou Corinthians, Atlético-MG e San Lorenzo entrarem para o seleto grupo dos vencedores da Libertadores.

Ambiciosa, a Uefa pretende peitar o Super Bowl, a tradicional final do futebol americano. O faturamento só cresce. Em 2022, a entidade máxima do futebol europeu arrecadou 4 bilhões de euros. Último colocado entre os premiados recebeu 24 milhões de euros. Mais do que o campeão da Libetadores. O Folamengo embolsou 22 milhões de dólares. Mais do que um espetáculo, a decisão de hoje turbina o mercado das Sociedades Anônimas do Futebol no Brasil. Afinal, City e Internazionale são dois modelos alternativos de SAF.

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