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Análise: o PIB cresceu, mas não significa que a crise econômica acabou

Logo após a divulgação do PIB do primeiro trimestre, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou nas redes sociais. "O país já está melhorando." Calma, não é assim. Sem o aumento do consumo das famílias e a queda abrupta no nível de endividamento da população, tudo não passará de um voo de galinha

Certa feita, o historiador escocês Niall Ferguson, um dos principais nomes da atualidade na análise das relações internacionais, cunhou uma frase que caiu como uma bomba entre os pares da academia: "Professores de Stanford e Harvard têm uma tendência de presumir que sabem mais sobre os países do que as pessoas que moram neles". Era uma crítica velada às avaliações, em sua maior parte pessimistas, sobre a situação política ou econômica de uma nação.

Ontem, a divulgação do crescimento de 1,9% da economia brasileira na comparação do primeiro trimestre de 2023 com o quarto trimestre de 2022 superou as expectativas do mercado. As projeções mais otimistas variavam de 1,1% a 1,3%, em média, no incremento do Produto Interno Bruto. Com condições favoráveis de produção entre janeiro e março, o agronegócio mostrou força e puxou a alta no PIB. Estimativas indicam recorde para a safra de grãos do país em 2023.

O bom desempenho do PIB deve ser visto, no entanto, com ressalvas, afinal, o bom desempenho do campo deve ficar concentrado no primeiro semestre. Portanto, segue forte a expectativa de desaceleração da economia brasileira nos próximos meses. Os entraves para o crescimento são muitos, em especial por conta dos juros altos. Com a Selic em 13,75%, cuja perspectiva de queda só deve começar em setembro, as atividades dependentes de crédito seguirão estagnadas.

Outra ponto urgente é a necessidade de incremento de investimentos produtivos na economia brasileira. A demanda por dinheiro do exterior é mais do que necessária para superarmos a crise que estamos há praticamente uma década. Fatores externos também devem ser levados em consideração. Se a economia mundial desacelerar, especialmente a China, haverá consequências para o Brasil. Afinal, trata-se do nosso principal parceiro comercial. "Se a China espirra, o Brasil pega um resfriado", costuma escrever Ferguson.

Logo após a divulgação do PIB do primeiro trimestre, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou nas redes sociais. "O país já está melhorando. "Calma, não é assim. Sem o aumento do consumo das famílias e a queda abrupta no nível de endividamento da população, tudo não passará de um voo de galinha. Nas palavras de Alan Blinder, ex-presidente do Banco Central americano: "Os políticos usam os economistas como os bêbados usam um poste: mais para se apoiar do que para iluminar".


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