A cada seis horas, uma mulher é vítima de feminicídio no país. Mais de 1.400 mulheres foram executadas no ano passado pelos ex-companheiros, maridos, ou ex-namorados. Hoje, no ranking global, o Brasil é a quinta nação mais violenta para as mulheres. A taxa deste crime chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres, segundo a Organização Mundial da Saúde(OMS). O trágico cenário resulta da fragilidade das políticas públicas e do subfinanciamento de ações do Estado para conter a fúria masculina. Um desafio ainda não superado pelo poder público.
O Distrito Federal registrou neste semestre 18 feminicídios — todo o ano passado foram 17. No primeiro trimestre deste ano, os assassinatos de mulheres aumentaram 350% em relação a 2022, segundo a Secretaria de Segurança Pública da capital federal. Uma escalada que se apresenta indomável, apesar dos anúncios feitos pelo governo local, com a criação de grupo de trabalho para conter os assassinatos por questão de gênero. Em Minas Gerais, só em janeiro último, 11 mulheres foram assassinadas e 14 sofreram atentados, segundo a Secretaria de Segurança Pública. A escalada revela que em 2021 foram mortas 155 mulheres e, 170 foram vítimas da violência letal em 2022.
Saiba Mais
Nos últimos anos, os cortes orçamentários para as ações de proteção à mulher chegaram a 95%. O Estado virou as costas à situação dramática enfrentada pelas mulheres, sobretudo àquelas em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Embora a violência masculina não seja menor na camada mais rica da sociedade. As medidas protetivas decretadas pela Justiça têm se revelado inócuas na salvaguarda da vida, na maioria dos municípios e estados.
Ainda que ela recorra às forças de segurança, praticamente, na maioria dos casos, nada é feito para proteger e preservar a integridade física da vítima da fúria do seu algoz. Ele segue em liberdade, sem qualquer monitoramento, quando a Justiça determina que fique afastado do seu alvo. Ou seja, o agressor não é contido por nenhum instrumento disponível ao poder público. Assim, o homem desafia a lei, a Justiça e todo o aparato policial. A morte de mais uma mulher torna-se inevitável.
A sanha assassina que afeta os homens deve-se aos conceitos desprezíveis do machismo e do patriarcalismo, que rotulam o sexo feminino como inferior. As mulheres, por tradição primitiva, são enquadradas como objeto de propriedade do homem. Esse entendimento é reforçado pela sub-representação feminina nas instâncias de poder, calcado em falsas teorias depreciadoras da capacidade decisória das mulheres.
A cultura do machismo e o modelo patriarcalista estão disseminados em todas as camadas da sociedade. Há uma resistência à presença feminina em todas as instâncias de poder, que, historicamente, consolida a depreciação da mulher, e reforça prepotência e a falsa supremacia do macho, que pode decidir sobre a vida e a morte da companheira ou da ex-companheira. A situação se repete quase sempre que ela decide dar um "não" ao relacionamento violento.
Aliada a essa dura realidade está a falta de educação, que afeta até algumas mulheres, condicionadas desde criança a serem subservientes ao sexo oposto. O respeito e a igualdade de direitos entre os sexos deveriam ser ensinados desde a infância. Mas esta não é realidade nacional, o que revela a incapacidade das autoridades de reeducar os homens para uma relação harmoniosa e respeitosa com o sexo oposto. Impõe-se ao poder público e a todas as instituições de Estado — e até mesmo às organizações privadas — desconstruir essa visão equivocada e incompatível com valores civilizatórios. Faltam campanhas nacionais contra a violência crescente contra as mulheres e a outros gêneros, que mobilizem a sociedade e despertem a sororidade — a solidariedade inquebrantável do universo feminino. Esta é uma luta de todas e todos.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br