Ao lado da hipertensão e do colesterol elevado, a diabetes é considerada uma das maiores vilãs para a saúde do coração e dos vasos sanguíneos. Especialmente quando não controlada, a doença aumenta significativamente o risco de infarto e de derrame cerebral, entre outras doenças cardiovasculares. Por se tratar de doença inflamatória, os vasos sanguíneos, veias e artérias sofrem com a evolução da diabetes, predispondo ao acúmulo de colesterol, lesões e instabilidade de placas, aumentando assim o risco de eventos potencialmente graves. Diabetes e doenças cardiovasculares estão intimamente relacionadas, e as estatísticas demonstram claramente essa associação.
De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, há cerca de meio bilhão de pessoas com a doença no mundo, o que impacta diretamente na mortalidade cardiovascular, afinal, 70% das pessoas com diabetes morrem de doenças cardiovasculares. Sabemos que os diabéticos têm até quatro vezes mais chances de desenvolverem obstrução das artérias do coração e do cérebro. Isso aumenta o risco de acidente vascular cerebral (AVC) em até quatro vezes. Além disso, doenças incapacitantes podem surgir como complicação, sendo a insuficiência cardíaca, por exemplo, cinco vezes mais comum em quem sofre de diabetes.
Estudos publicados em renomadas revistas científicas, como Circulation, da Associação Americana de Cardiologia, mostram que, entre 10 pessoas que infartam, três têm diabetes. Outro renomado estudo, o Interheart, mostrou que o risco de infarto aumenta até três vezes no diabético. Atualmente, a cardiologia, assim como as demais especialidades que lidam com a diabetes, conta com um grande aliado no controle glicêmico e, principalmente, nas complicações e na redução do risco de mortalidade pela doença. Nos últimos anos, os medicamentos que agem como inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2) ganharam importância central no tratamento não só da diabetes, mas também de problemas cardíacos, devido aos seus efeitos sobre o sistema cardiovascular. Embora ainda estejam sob grande investigação, esses medicamentos já são consagrados como seguros e importantes na redução de mortalidade.
Estudos clínicos demonstraram que os inibidores da SGLT2 reduzem o risco de eventos, como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e morte cardiovascular em pessoas com diabetes. Eles também melhoram a função cardíaca em pessoas com insuficiência cardíaca, independentemente de terem diabetes ou não. Esses medicamentos reduzem o estresse oxidativo, a inflamação e a fibrose cardíaca, melhorando a contratilidade e a eficiência do coração.
Mas é necessário destacar que, aliado ao uso de novos medicamentos, o controle adequado da diabetes pode ajudar a reduzir o risco de problemas cardiovasculares. Para evitar essas complicações, é importante controlar muito bem a glicemia, com medicação oral ou insulinoterapia injetável, associado à dieta adequada, rica em alimentos naturais e nutritivos, de baixo índice glicêmico, como frutas, legumes, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis, evitando alimentos processados, ricos em açúcar e gorduras saturadas. Além disso, é essencial manter-se fisicamente ativo, o que ajuda a regular os níveis de glicose no sangue, melhora a sensibilidade à insulina, fortalece o coração, promove a saúde cardiovascular e ajuda a controlar melhor o peso.
Juntamente com esses cuidados, os diabéticos não podem se esquecer de manter acompanhamento periódico com endocrinologistas e cardiologistas para redução de mortalidade. Outras especialidades, como oftalmologia, nefrologia e neurologia, podem ser importantes, a depender das complicações apresentadas, como distúrbios da visão, disfunção renal, neuropatia e declínio cognitivo.
MARCOS P. PERILLO FILHO - Cardiologista e coordenador clínico do Instituto de Neurologia de Goiânia
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