O desfecho trágico do desaparecimento do submersível com cinco pessoas a bordo no Oceano Atlântico merece algumas reflexões. Desde domingo, o sumiço do pequeno submarino lançado ao mar para visitar as ruínas do Titanic despertou grande interesse do público em todo o mundo. Acredito que basicamente por três motivos: pelo caráter inovador e inusitado da aventura — o equipamento era comandado por um controle barato de videogame —, pelo poder aquisitivo dos viajantes e por revisitar uma região marcada por um dos naufrágios mais famosos da história.
Nos últimos dias, por exemplo, percebi muitos excessos nas redes sociais. O primeiro deles é sobre o tom jocoso dado pelos usuários em relação ao assunto, com pessoas dando risadas sobre milionários desaparecidos no fundo do mar. No Twitter, por exemplo, uma thread — um fio de postagens do mesmo usuário — organizando "todas as piadas do submarino" atingiu mais de 3 milhões de visualizações em menos de 24 horas. Realmente não sei qual a graça.
A expedição mostrou-se imprudente? Sim. Mas daí até ser engraçado existe uma distância enorme. Afinal, somos humanos. E uma das regras básicas da vida em sociedade é ter empatia pelo próximo. Creio que deveria ser uma premissa para todos que postam em redes sociais: antes de fazer um comentário — ou até mesmo uma piada —, como as famílias e as suas dores pelo luto vão compreender as palavras? Ajudaria demais a evitar gafes. Acredite.
Outro ponto que merece uma reflexão é sobre a comparação com a cobertura dos naufrágios com barcos de migrantes ao longo do Mediterrâneo. Nas últimas 48 horas, uma grande discussão tomou conta das redes sociais em relação à pouca atenção dada pela mídia ao afundamento de uma embarcação com centenas de pessoas, sendo mais de 100 crianças, na Grécia, dias antes. Longe de querer ser ombudsman, mas tal analogia entre os dois casos não deve ser feita.
Primeiro porque "prestar mais atenção" à procura pelo submarino de ricaços não significa deixar de ficar indignado com a crise humanitária existente. Quem não se comoveu, por exemplo, com a foto do menininho sírio de 3 anos, em 2015, morto na praia de Bodrum? A imagem dele vestindo blusa vermelha e bermuda azul tornou-se um símbolo da migração que matou milhares de refugiados na travessia da Turquia para a Grécia. Jogou luz sobre o assunto. Afinal, imagens influenciam o curso da história. E segundo: as redes sociais entregam majoritariamente o que o algoritmo oferece. Ir atrás da informação é fundamental para ficar bem informado, e não apenas depender das "trends".
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