As quatro mortes recentes de pessoas que foram a um evento em uma fazenda em Campinas (SP) no último dia 27 de maio, por febre maculosa, são um doloroso lembrete dos perigos de uma doença gravíssima, mas inexplicavelmente negligenciada no Brasil. Transmitida pelo carrapato-estrela, a enfermidade exige uma ação urgente e coordenada por parte das autoridades públicas no Brasil.
A febre maculosa não é um fenômeno novo no país. Há registros de casos desde o início do século 20, mais precisamente em 1929, justamente em São Paulo, onde ela foi identificada pela primeira vez. Na sequência, a doença se espalhou para Rio de Janeiro e Minas Gerais — onde, em 1943, matou em Belo Horizonte o padre Eustáquio, hoje considerado beato pela Igreja Católica e uma das vítimas mais conhecidas da enfermidade.
Agora, com o triste destaque que a doença voltou a ter, é o momento de o poder público tomar atitudes para combater o problema, em um esforço conjunto entre autoridades de saúde, especialistas em doenças infecciosas, órgãos de meio ambiente e a sociedade civil.
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Em primeiro lugar, é crucial investir em pesquisa e desenvolvimento para aprimorar a compreensão sobre a febre maculosa. Recursos devem ser alocados para estudos epidemiológicos, identificação de novas áreas endêmicas e desenvolvimento de métodos eficazes de controle do carrapato-estrela.
A melhoria da infraestrutura de saúde também é essencial. É necessário garantir que os profissionais médicos estejam devidamente capacitados para diagnosticar e tratar a febre maculosa com velocidade. Como os sintomas (febre, dor de cabeça, náuseas, diarreia) são comuns a diversas outras doenças, é preciso que seja desenvolvido um protocolo para a detecção da enfermidade em seus estágios iniciais, quando o tratamento médico é mais eficaz. Os centros de saúde devem ser equipados com os recursos necessários para lidar efetivamente com a doença e para realizar estes testes diagnósticos.
A educação e conscientização da população também são fundamentais para prevenir a propagação da febre maculosa e evitar ataques desnecessários às capivaras, hospedeiras do carrapato-estrela. As autoridades devem implementar campanhas de informação em escolas, universidades e comunidades, destacando medidas de proteção individual, como o uso de roupas adequadas e repelentes.
Em paralelo, é fundamental intensificar as ações de controle do carrapato-estrela. Isso envolve a implementação de medidas ambientais, como o manejo da população de capivaras em áreas de risco e a manutenção adequada de áreas verdes urbanas. Na fazenda de Campinas, por exemplo, a área de estacionamentos apontada como o foco da doença é cortada por um córrego habitado por capivaras que vivem de modo selvagem. Também é importante incentivar a pesquisa de métodos inovadores de combate ao carrapato, que já podem estar em desenvolvimento nas universidades do país, aguardando justamente um incentivo oficial.
Por fim, a cooperação entre diferentes esferas do governo é fundamental. Deve existir uma atuação integrada dos órgãos de saúde, meio ambiente, agricultura e turismo, prefeituras, governos estaduais e governo federal para enfrentar a febre maculosa de maneira efetiva. A troca de informações e a coordenação de esforços são indispensáveis para lidar com a complexidade do problema e garantir o bem estar da população.
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