No último domingo ocorreu a 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, reunindo cerca de 3 milhões de pessoas na Avenida Paulista. Há quem torça o nariz para o evento, especialmente a fatia mais conservadora da população que não aceita a homossexualidade e todas as derivações possíveis do comportamento humano relacionado à natureza sexual que se disassocia do imposto como convencional. Muitos acreditam que a marcha pela diversidade é apenas um pretexto para que uma multidão de pervertidos ganhe as ruas com salvo-conduto para explicitar a promiscuidade diante da sociedade, como uma forma de rebeldia, transgressão e até mesmo agressão.
Em sua definição original, a palavra preconceito significa "qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico". É aquela velha narrativa do "eu acho que é assim, e só minha opinião importa". Não é tão fácil desintegrar átomos, quanto mais um preconceito, como bem descreveu Einstein. Desde Adão e Eva, que viviam nus entre os bichos, a ideologia pecaminosa vem sendo regada com doutrinamentos que atribuem maldade ao que deveria ser naturalizado. E, com ela, atravessa-nos a intolerância, palavra que traduz a resistência em não ouvir opiniões, ideias e atitudes opostas, e tem, muitas vezes, como consequência as violências.
Na prática, ser preconceituoso ou intolerante é alimentar um sentimento hostil que generaliza, de forma apressada, uma ótica pessoal ou imposta pelo meio. É o que agrava declarações como a do pastor evangélico que disparou, no dia da Parada de SP, a frase "Deus odeia o orgulho", em uma equivocada associação do movimento LGBTQIAPN com um dos sete pecados capitais mais condenados pela Igreja.
De fato, a palavra em questão aparece diversas vezes na Bíblia Sagrada. Em uma delas, Provérbios 16: 5, é dito que "Deus abomina o orgulho". Entretanto, há uma enorme distância entre o significado da palavra em seu teor bíblico ao que se propõe a celebração que marca o mês de junho mundialmente. Enquanto nas Escrituras o orgulho resume em si sentimentos torpes como empáfia, soberba e arrogância — sentimentos que geram desconforto ao diminuir outros seres humanos —, para o movimento simbolizado pelo arco-íris é pura e simplesmente a representação do amor-próprio, da honra e da dignidade de ser quem é e caminhar pela vida de cabeça erguida, ciente de que não está cometendo crime algum — e, a partir da crença individual, nenhum pecado.
Lamentavelmente, mesmo dentro da comunidade repleta de letras simbólicas e repletas de significados, o preconceito encontra um solo fértil para variados posicionamentos contrários ao legítimo propósito da causa LGBTQIAPN : a liberdade de amar, a inclusão, a garantia de direitos humanos e, principalmente, a sobrevivência.
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