NULL
amazônica colombiana

Artigo: O nome delas é "coragem"

Resiliência, força, sabedoria, fé, superação, coragem. São tantas as palavras para descrever a história de quatro irmãos, de 1, 5, 9 e 13 anos, que sobreviveram a um acidente aéreo, viram a mãe agonizando dentro do avião e se perderam na selva amazônica colombiana por 40 dias

Sofia Petro (C), filha do presidente colombiano Gustavo Petro, cumprimentando uma das quatro crianças indígenas que foram encontradas vivas depois de ficarem perdidas por 40 dias na floresta amazônica colombiana após um acidente de avião
       -  (crédito: Colombian Presidency / AFP)
Sofia Petro (C), filha do presidente colombiano Gustavo Petro, cumprimentando uma das quatro crianças indígenas que foram encontradas vivas depois de ficarem perdidas por 40 dias na floresta amazônica colombiana após um acidente de avião - (crédito: Colombian Presidency / AFP)
postado em 14/06/2023 06:01

Resiliência, força, sabedoria, fé, superação, coragem. São tantas as palavras para descrever a história de quatro irmãos, de 1, 5, 9 e 13 anos, que sobreviveram a um acidente aéreo, viram a mãe agonizando dentro do avião e se perderam na selva amazônica colombiana por 40 dias. Imagine passar seis semanas em uma região totalmente selvagem, onde é possível encontrar serpentes venenosas, escorpiões, aranhas, onças pintadas e gatos do mato. Precisar enfrentar chuvas torrenciais com descargas elétricas frequentes. E o pior: sem ter nenhuma certeza de que conseguirá se manter vivo por muito tempo até ter a sorte de ser encontrado.

O resgate de Lesly, Soleiny, Tien e Cristin guarda muitas camadas de lições para a humanidade. Por serem indígenas, a mesma selva que seria um ambiente totalmente hostil para nós, da cidade, os alimentou com ovos de tracajá, farinha de mandioca, maracá (fruto similar ao cacau) e de pepas de monte (tipo de semente).  

Foi graças ao conhecimento ancestral transmitido pelos abuelitos, os anciãos de seu povo huitoto, que Lesly garantiu a sobrevivência sua e dos três irmãos menores.  O resgate das crianças também somente foi possível por esse mesmo conhecimento. Seis indígenas alcançaram primeiro os meninos, na tarde de sexta-feira. Para fazê-lo, Luis Acosta — coordenador nacional da Guarda Indígena da Colômbia — contou ao Correio que eles pediram à natureza permissão para entrar na mata e usaram yagé (ou ayahuasca, bebida enteógena feita com o cipó mariri e a folha da planta chacrona) para "enxergar melhor" e abrir a mata. Ambiente que conhecem bem. Como recorrer aos alimentos sem risco de envenenamento. Como se deslocar pela selva sem se desorientar. Sabedoria milenar.

Nos últimos dias, entrevistamos o pai, a avó, o tio-avô e o tio materno das crianças. Chamou-me a atenção o fato de que todos usaram a palavra "milagre". A história, por si incrível, ganha mais um elemento de suspense: Wilson. O cão farejador da raça pastor-belga-malinois encontrou pistas deixadas pelas quatro crianças, entre elas uma tesoura, e desapareceu. Um dos meninos relatou aos médicos que Wilson passou três dias ao lado deles. No último dia 6, o cachorro foi visto a apenas 5m do guia canino Juan Sebastián Sora, membro da equipe de resgate. Depois, não mais foi visto. A busca por Wilson virou questão de honra.

Por trás de toda a carga dramática — a perda da mãe, Magdalena, no acidente com o monomotor; a sobrevivência por 40 dias na floresta e o reencontro com familiares —, o destino de Lesly, Soleiny, Tien e Crstin provavelmente ficará a cargo da Justiça colombiana. O pai e os avós maternos vão disputar a guarda das crianças. Dessa vez, o futuro dos pequenos não dependerá de resiliência, força, sabedoria, fé, superação e coragem.

 


Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

-->