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INDÚSTRIA

Visão do Correio: É preciso acelerar a indústria brasileira

A indústria pleiteava um programa com duração de um ano, mas, diante das restrições orçamentárias e como é baseado em incentivo fiscal, ficou limitado a quatro meses

Índice elaborado pela CNI caiu em todos os 29 setores analisados -  (crédito: EBC)
Índice elaborado pela CNI caiu em todos os 29 setores analisados - (crédito: EBC)
postado em 07/06/2023 06:54 / atualizado em 07/06/2023 06:54

Ao anunciar o novo programa do carro popular com ampliação do escopo para incluir ônibus e caminhões, o governo dá um passo para atender à indústria automotiva, que opera com ociosidade e necessita de estímulos para aquecer o mercado consumidor. Com o crédito escasso e caro, a opção é oferecer descontos que variam de R$ 2 mil a R$ 8 mil para veículos leves, dependendo da faixa de preço e do grau de emissão de gases do efeito estufa. A solução é pontual. A indústria pleiteava um programa com duração de um ano, mas, diante das restrições orçamentárias e como é baseado em incentivo fiscal, ficou limitado a quatro meses. Ainda assim, a indústria, que imediatamente incorporou o bônus e reduziu os preços, estima que a medida seja suficiente para elevar a comercialização de carros entre 100 mil e 110 mil unidades este ano.

Mais do que isso, ao incluir também ônibus e caminhões no programa, o governo atendeu a um pedido do setor automotivo e incorporou a renovação da frota de veículos de carga e de transporte coletivo com mais de 20 anos de circulação, ou seja, fabricados até 2003. Nesse caso, além de reativar um setor que sente mais o efeito dos juros altos e está desaquecido, o governo atende a uma demanda antiga das montadoras: um programa com incentivos para renovação da frota circulante no país. Não há estimativas exatas, mas considerando o valor dos incentivos do governo e um preço médio estimado para os veículos mais antigos, a perspectiva é de que 10 mil unidades sejam substituídas por caminhões e ônibus mais modernos e menos poluentes.

O incentivo é bem-vindo no momento em que a manutenção das taxas de juros em patamar elevado por mais tempo reduz a atividade econômica nos setores mais dependentes do crédito, que, além de caro, ficou restrito após a crise da Americanas. Mas é preciso mais. O Brasil carece de uma política industrial consistente e que norteie os investimentos prioritários no momento de transição do modelo atual de produção para um padrão de baixo carbono e de maior eficiência energética.

Historicamente o Brasil conduz sua política industrial com base na substituição das importações, adotada principalmente após o fim da Segunda Guerra Mundial. Mas esse processo se esgotou a partir da formação de grandes conglomerados abastecidos por cadeias globais de suprimentos. É nesse contexto que o Brasil precisa ter políticas claras de estímulo à reindustrialização numa dinâmica que vá além da pura e simples substituição de itens importados, o que nos deixa sempre em atraso em relação a outros países industrializados.

Depois de fechar fábricas e desinvestir na indústria de fertilizantes, o Brasil se viu, com a guerra entre Rússia e Ucrânia, sob risco de ficar sem insumos agrícolas, e foi criado o Plano Nacional de Fertilizantes, que está parado. É apenas um exemplo. Se o país não tivesse fechado fábricas e desativado projetos de insumos agrícolas, o Brasil poderia ser, com a guerra, potencial fornecedor global desses itens.

A carência de uma política industrial e consistente fica evidente ao se observar a participação da indústria de transformação na geração de riqueza no Brasil, que caiu de uma fatia de 34% na década de 1980 para um patamar pouco acima de 10% agora. Nos últimos anos, vimos fechamento de fábricas de aparelhos eletrônicos à de automóveis, sem contar as pequenas e médias indústrias que fecham na esteira do encerramento das atividades de grandes grupos. A indústria de transformação, que tem os melhores empregos e paga os melhores salários, precisa ser estimulada de forma consistente e estratégica, para que se possa dar continuidade à expansão econômica sem a necessidade de se recorrer sempre a medidas pontuais. O estabelecimento de uma política industrial é uma exigência para que o país volte a crescer economicamente de forma sustentável.

 


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