Meu avô era um homem diferenciado. Wilson Craveiro de Sá era amante do céu estrelado, gostava de ler sobre astronomia, ciência e ficção; guardava em sua biblioteca livros de Carl Sagan, Isaac Asimov e Stephen Hawking. Ele partiu para as estrelas três anos atrás, deixando saudade e um oceano de gratidão e amor. Das lembranças mais lindas que guardo dele, uma aquece meu coração sempre que olho para cima. Na fazenda, adorávamos olhar o cosmo, admirar parte da Via Láctea, buscar as constelações e apontar os planetas. Dentro do imenso afeto que sentíamos, nos percebíamos infinitamente pequenos ante a grandeza do Universo. Também falávamos com entusiasmo sobre vida alienígena. Para meu avô era impensável imaginar toda aquela imensidão como se fosse um deserto, um ambiente completamente inóspito.
Meu avô contava que testemunhou um fenômeno inexplicável. Década de 1970. Viajavam de Goiânia para Goiás. Estrada de terra. À noite. Percurso difícil. Cerca de 150km. Perto de Itaberaí, um facho de luz desceu do céu e se escondeu atrás de uma serra. Ofuscou a vista dele, que foi obrigado a parar o carro. Minha mãe e meus tios eram crianças. Na mesma velocidade que a esfera luminosa baixou até o chão, subiu e desapareceu no céu. Isso marcou meu avô de uma forma que ele passou a ter convicção de que a vida não é privilégio nosso. Seria como imaginar Brasília povoada no meio do nada absoluto.
Mas contemplar as estrelas com o meu avô também me levou a ter reflexões filosóficas. O Universo nos ensina a ser humildes. A Lua, todos os dias, aparece para iluminar a escuridão. O Sol, todas as manhãs, quase sempre no mesmo horário, surge para trazer calor e aquecer a humanidade. As estrelas estão lá para orientar o navegante. O crepúsculo também acalenta o nosso espírito e faz com que nos sintamos mais perto do divino. A alvorada traz o canto dos pássaros e nos anima a reiniciar a nossa jornada, e a seguir em frente. Com o céu, aprendemos que, em nossa passagem por este plano, não cabem presunção, orgulho, arrogância e egoísmo.
Ainda espero que o homem descubra alguma forma de vida extraterrestre. Talvez esse seria o maior achado da história da humanidade. Mas talvez esse tipo de vida jamais seja detectado. Muito provavelmente por fugir do próprio conhecimento humano, por ser feito de energia ou de matéria que ainda não tivemos a capacidade científica ou tecnológica de descobrir. Hoje, acredito que o meu avô tenha conseguido a resposta para uma de suas inquietações. E sei que ele está em tudo e em todos os lugares. No olhar de minha avó, nos livros de astronomia e no céu salpicado de estrelas e de mistérios.
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