Inaugurada em 15 de dezembro de 2002, por volta das 10 horas de um domingo ensolarado, a Ponte JK, cartão-postal relevante de Brasília, foi entregue à comunidade no mesmo dia em que, se estivesse vivo, o presidente Juscelino Kubitschek completaria 100 anos. Nada mais simbólico, um gesto elegante em homenagem à família do fundador da cidade.
Seus 1.200 metros de extensão ligam o Lago Sul e vários condomínios ao Plano Piloto de Brasília, permitindo que cerca de 40 mil veículos façam esse percurso diariamente. Construída, pelo lado do Lago Sul, entre as QI 26 e QL 24, em sua outra ponta, terminando próximo ao Clube de Golfe, a obra facilita o acesso à Esplanada dos Ministérios, à Asa Sul e à Asa Norte. Foi construída em dois anos e meio, empregando 2 mil operários, em um trabalho tecnicamente apurado. Coube ao engenheiro José Celso Valadares Gontijo, na época com 58 anos, casado, três filhas e duas netas, diretor da Via Dragados, a responsabilidade de construir esse monumento. Vem-me à lembrança o diálogo que tive com Gontijo, em plena obra, quando disse que para ele a ponte era como uma filha e a tratava com todo o cuidado.
A Ponte JK nasceu de um concurso público, vencido pela empresa Projeconsult. A obra foi projetada por Alexandre Chan, quando tinha 55 anos. Vale registrar que esse monumento teve também o dedo profissional do calculista Mário Vila Verde, o mesmo profissional que elaborou o cálculo da obra da Ponte Rio-Niterói em dobradinha com Fillemon Botto Barros. Com alguma vaidade e uma dose certa de orgulho, esses técnicos lembram que a Ponte JK é a primeira do mundo a ter três vãos livres, uma extensão de 240 metros por 24 metros de largura e um arco de sustentação cruzando o tabuleiro (piso da ponte).
E mais: esse tabuleiro pesa mais de 2.550 toneladas. Sua estrutura metálica, proveniente de Ipatinga, Minas Gerais, chegou a Brasília em gigantescas carretas. Junto a esse grupo pioneiro, relembramos os pais desse projeto arrojado — os renomados Nelson Aoki, professor de geotecnia, e Dirceu Veloso — ambos responsáveis por todas as pesquisas de solo, a base da ponte.
Esses técnicos garantem a segurança da obra. Em alguns pontos do Lago Paranoá, a profundidade chega a 25 metros. Lembram que, em certa fase da construção, chegaram a cavar 65 metros de profundidade, utilizando até dinamite para romper barreiras do solo.
Muito a narrar sobre esse feito, que no cenário mundial não figura entre as maiores. Mas em charme, desafio estrutural e em tecnologia, seguramente ostenta um vaidoso top 10. Sob as águas do lago, ela ostenta 40 mil metros cúbicos de concreto e 18 mil toneladas de estrutura metálica, duas vezes mais do que o utilizado na construção da Torre Eiffel, em Paris. Na época, José Celso relatou também que a tevista londrina Bridge, especializada em obras sobre pontes em todo o mundo, fez uma ampla matéria, apontando a Ponte JK como uma obra-prima, tecnicamente perfeita.
O tempo de construção, dois anos, recorde absoluto para obras, também merece registro. E durante todo esse período, e ainda num cenário ladeado de riscos, a obra não registrou um só acidente de maior gravidade.
Por tudo isso, essa obra já merece um pouco mais de atenção do GDF, leia-se Novacap. Cuidados esses que vão desde a renovação da pintura de seus arcos à iluminação. No caso da pintura, uma solução definitiva para o eterno problema das juntas de dilatação que, a cada dois meses, geram problemas e novos gastos. No tema iluminação, é deficiente, opaca e esconde do público toda a grandiosidade, pompa e silhueta de grande porte.
Que não seja nossa Ponte JK mais um exemplo de descaso e falta de consideração como já presenciamos com os projetos de recuperação do Teatro Nacional. Quase oito anos no escuro, adormecido. Nossa Ponte JK é um monumento grandioso, imponente e representativo da história desta cidade. Que por sua magnitude, aos 20 anos, não se admitem rugas, dores nas juntas nem falta de vigor físico.
*JOSÉ NATAL - Jornalista
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br