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Redes Sociais

Visão do Correio: Internet não pode ser terra sem lei

"O uso indiscriminado dos dados de usuários, a pandemia de fake news e a disseminação do discurso do ódio são alguns problemas que ganharam relevo no atual contexto das redes sociais"

This file illustration photo taken on September 14, 2020 shows the logo of the social network application TikTok (L) and a US flag (R) shown on the screens of two laptops in Beijing. - The White House on Monday, February 28, 2023, gave federal agencies 30 days to purge Chinese-owned video-snippet sharing app TikTok from all government-issued devices, setting a deadline to comply with a ban ordered by the US Congress.  -  (crédito: NICOLAS ASFOURI / AFP)
This file illustration photo taken on September 14, 2020 shows the logo of the social network application TikTok (L) and a US flag (R) shown on the screens of two laptops in Beijing. - The White House on Monday, February 28, 2023, gave federal agencies 30 days to purge Chinese-owned video-snippet sharing app TikTok from all government-issued devices, setting a deadline to comply with a ban ordered by the US Congress. - (crédito: NICOLAS ASFOURI / AFP)
postado em 05/06/2023 06:00

Quando os historiadores do futuro se debruçarem sobre a internet, certamente vão estranhar a presença de Montana, nos Estados Unidos, como palco de um ponto crucial nesse tema. Afinal, o estado é pouquíssimo tecnológico, um dos mais rurais e um dos menos habitados dos EUA, com cerca de 1 milhão de habitantes e mais gado do que gente. Mas é em Montana que está sendo travada uma batalha que pode determinar a liberdade da internet.

Contextualizando: Montana é o primeiro estado norte-americano a banir totalmente o aplicativo TikTok, da desenvolvedora chinesa ByteDance. Acusa a plataforma de coletar informações dos usuários sem consentimento e compartilhá-las com o governo chinês. A decisão foi parar na Justiça, que ainda analisa o caso.

Essa não é a primeira ação ocidental contra o TikTok. Reino Unido, Austrália, Canadá e Nova Zelândia já proibiram o uso do aplicativo em dispositivos de funcionários governamentais. Mas é a primeira em que o aplicativo é banido totalmente para o usuário comum. Embora as preocupações em relação à segurança nacional sejam compreensíveis, ainda não existem evidências sólidas contra o TikTok. A rede social é alvo de mais um caso de imposição de limites no universo digital.

Na China, terra natal do TikTok, o controle já existe há muito tempo. Desde o fim dos anos 1990, a Grande Firewall — referência à Grande Muralha — impede o acesso de boa parte dos sites e serviços ocidentais, como Google, Facebook, Twitter e Wikipédia, além de veículos da imprensa. Outros países com governos autoritários como Turquia, Síria, Irã, Paquistão e Índia também costumam restringir o acesso de seus cidadãos à internet em momentos de instabilidade. Não era o caso dos países ocidentais, que se orgulhavam de manter a internet livre e praticamente sem regulamentação. Agora, esse momento passou.

Há razões, entretanto, para justificar um maior controle em regimes democráticos. O uso indiscriminado dos dados de usuários, a pandemia de fake news e a disseminação do discurso do ódio são alguns problemas que ganharam relevo no atual contexto das redes sociais. O Brasil e os Estados Unidos, para citar apenas esses dois países, enfrentaram tragédias como o negacionismo da covid-19, movimentos golpistas e atentados em escolas em razão da ausência de qualquer controle mais rígido sobre as atividades das big techs.

Não à toa, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal têm se dedicado a estabelecer um ordenamento que previna o mundo digital de se tornar uma terra sem lei — e nem sempre contam com a colaboração das gigantes da tecnologia nesse sentido. As reflexões presentes nessas iniciativas partem de um princípio jurídico consagrado: a liberdade de expressão não é um direito absoluto. Há responsabilidade naquilo que se afirma ou se divulga. É nesse contexto que aumenta a mobilização para enquadrar as redes sociais.

Qualquer que seja a decisão da Justiça norte-americana, pode-se inferir que o ideal da internet livre, sem qualquer controle, está sob escrutínio. O que vai emergir disso ainda é uma incógnita. Espera-se que a rede mundial se mantenha como um avanço tecnológico. E que seja mais segura e menos nociva à sociedade, sem perder a característica democrática.

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