EDITORIAL

Visão do Correio: Vozes contra o racismo

"Além do apoio a Vini Jr., é necessário que as ações surtam efeito, com punição aos agressores para que casos como esse não se repitam"

Mais um episódio de racismo nos campos de futebol acabou causando repercussão em todo o mundo, com a divulgação de milhares de posts em redes sociais tanto de pessoas ligadas ao esporte, quanto de celebridades e anônimos em apoio ao atleta brasileiro Vinícius Júnior. Ele foi vítima de xingamentos racistas no último jogo entre Valencia e Real Madrid (do qual faz parte) pela LaLiga, na Espanha. Jogadores e ex-jogadores, como Neymar, Mbappé, Casemiro e Ronaldo, só para citar alguns, manifestaram indignação diante dos ataques sofridos por ele no último domingo. Vini Jr. tornou-se protagonista de uma batalha gigante contra o preconceito. "A cada rodada fora de casa uma surpresa desagradável. E foram muitas nessa temporada. Desejos de morte, boneco enforcado, muitos gritos criminosos... Tudo registrado", desabafou o jogador.

O Real Madrid acionou a Justiça espanhola, cobrando do Ministério Público que as agressões sejam consideradas crimes de ódio e discriminação, referindo-se também a outros ataques em estádios espanhóis. O técnico do time, Carlo Ancelotti, se revoltou: "Um estádio inteiro grita 'macaco' a um jogador. Há algo errado nesta liga", disse. No dia seguinte, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, lamentou o ocorrido e cobrou mudança de conduta. "Está claro que é mais fácil falar do que fazer, mas temos que fazer e apoiar um processo de educação", afirmou. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, entre outras autoridades brasileiras, se posicionaram e cobraram ações contra os agressores.

A imprensa publicou informações sobre o grupo que estava atrás de um dos gols. O Ultra Yomus, como ficou conhecido, é uma torcida organizada considerada fascista e com ideologia nacionalista. Além das bandeiras identificadas com o nazismo, eles têm um longo histórico de cantos racistas, antissemitas e pró-nazismo nos estádios, além de registros de brigas e até esfaqueamentos.

Diante da pressão mundial para que os agressores sejam identificados e punidos, assim como a torcida e o clube que eles representam, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, criticou os insultos e compartilhou o anúncio de uma campanha contra o racismo nos estádios da Espanha. Será mesmo que surtirá efeito? Quantos já vivenciaram essa mesma situação, inclusive o próprio Vini Jr., que incansáveis vezes denunciou que foi xingado de "macaco" ou teve sua figura exposta em conotação nada agradável? Vide tantos outros: Aranha, Michel Bastos, Arouca, Tinga, Hulk, Celsinho...

Não é possível que ainda tenhamos que noticiar fatos tão deploráveis como este. E complementando a frase dita pelo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Enaldo Rodrigues, "a cor da pele não pode mais incomodar", cairia muito melhor o pensamento do professor Nelson Inocêncio, ativista que acompanhou o processo de implementação das cotas raciais na UnB e no país: "O racismo corrói a sociedade civil e as instituições indiscriminadamente". Que o bom senso, a boa educação e, acima de tudo, o respeito prevaleçam.

Ontem foram anunciadas algumas medidas para corrigir decisões em relação ao jogo do domingo e coibir atos como o ocorrido. Mas é preciso mais. Além do apoio a Vini Jr., é necessário que as ações surtam efeito, com punição aos agressores para que casos como esse não se repitam. Tolerância zero com os criminosos.

Mais Lidas