meio ambiente

Artigo: Os tesouros da Amazônia

"É muito fácil proibir acesso às áreas promissoras e exibir cenas de policiais dando tiros. Mas, enquanto houver ouro, haverá garimpo. Enquanto houver petróleo, haverá pressão para explorar essa riqueza"

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF - Jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

Era fácil prever o conflito de opiniões. A Petrobras descobriu imenso lençol petrolífero na Região Norte do Brasil. A chamada margem equatorial vai desde as costas do Amapá até o Rio Grande do Norte. Na verdade, essa maravilha começa na altura da Guiana, antiga Guiana Inglesa, que é um dos países mais pobres do Continente. No entanto, no último ano conseguiu fazer sua economia crescer 62%, um recorde diante do mundo. A Guiana faz fronteira com Roraima, ligada por estrada, parcialmente asfaltada, entre Boa Vista e Georgetown, capital da antiga província inglesa.

O Exército brasileiro trabalha com um projeto estratégico que vem desde o governo Sarney chamado Calha Norte, cujo objetivo é adensar a população nas áreas de fronteira, sobretudo na Região Norte. A descoberta desse mar de petróleo na Guiana abre enorme perspectiva para o norte do país. E atende ao projeto militar. A cidade de Georgetown está mais próxima de Boa Vista que Manaus. Seu porto se debruça sobre o Oceano Atlântico, o que abre possibilidades de exportação e importação para todo o mundo, com custos menores. O porto de Manaus, no Rio Amazonas, obriga a navegação de quatro ou cinco dias até o oceano.

Esse é um pedaço da história. O outro é a descoberta no Brasil de um novo pré-sal que vai do Amapá, a 160 quilômetros da costa, até o litoral do Rio Grande do Norte. É promessa de renda e investimentos poderosos numa região que é muito pobre. A Petrobras já construiu uma moderna pista de pouso na cidade de Oiapoque, no extremo

norte do país, fronteira com a Guiana Francesa, para iniciar suas operações. A região é tão esquecida que a estrada entre Oiapoque e Macapá, pouco mais de 500 quilômetros, só recebeu asfalto até a metade do trecho. É impossível chegar ao extremo norte do país por terra na temporada de chuva.

A descoberta dessa nova e importante reserva de petróleo (os primeiros cálculos indicam jazida de 10 bilhões de barris) é uma revolução em toda a costa norte do Brasil, que só é visitada por turistas — a região é linda — por contrabandistas e piratas de todos os calibres. A energia eólica já vem proporcionando razoável elevação de renda na região porque as empresas que exploram esse negócio pagam para instalar em pequenos terrenos as enormes torres que, movidas pelo vento, acionam geradores de energia elétrica. Mas o petróleo é a perspectiva de mudança de vida. A pequena Oiapoque se candidata a ser uma cidade semelhante a Macaé, no estado do Rio, onde está concentrada a principal operação da Petrobras e das empresas privadas na área do pré-sal.

Mas o Ibama, órgão encarregado de proteger o meio ambiente, deu parecer contra a atividade de empresas de petróleo em nome de proteger a fauna e a flora da região. Os primeiros poços estariam localizados a mais de 500 quilômetros da Foz do Rio Amazonas. Ambientalistas já se movimentam nos mais diversos meios de comunicação dentro e fora do país contra exploração de petróleo naquela área. Surgem propostas no sentido de que a Petrobras deixe o petróleo e se dedique às energias alternativas que deverão dominar o mundo no futuro ainda não dimensionado. Essa decisão, contudo, condena à pobreza os povos do norte brasileiro. Os mesmos argumentos não foram alegados quando o pré-sal foi descoberto nas costas do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.

Além do petróleo, há a questão do garimpo. O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, estima que neste momento trabalham algo em torno de 60 mil garimpeiros no estado do Pará. Em toda a Amazônia, segundo os cálculos dele, operam entre 500 e 600 mil garimpeiros. Essa legião de aventureiros é movida pela vontade de enriquecer. Um quilo de ouro puro vale, na origem, R$ 361 mil. O dinheiro irriga as atividades básicas das pequenas cidades do norte. Leva renda para os povos da floresta. E para contrabandistas, prostitutas, pilotos de avião e, por último, vai para negociadores que carregam o precioso metal para a Suíça, que, de acordo o presidente do Ibram, é o principal comprador do ouro brasileiro.

É muito fácil proibir acesso às áreas promissoras e exibir cenas de policiais dando tiros. Mas, enquanto houver ouro, haverá garimpo. Enquanto houver petróleo, haverá pressão para explorar essa riqueza. É mais produtivo trabalhar com base na realidade para compreender a riqueza da Amazônia e tentar a solução que aproveite os dois lados. Um pouco de inteligência e estudo da situação pode apresentar o caminho razoável que aproveite os interesses comerciais, os povos da floresta e inclua os europeus na solução. Eles também precisam de petróleo.

Mais Lidas