JOSÉ PASTORE - Professor de relações do trabalho da Universidade de São Paulo e membro da Academia Paulista de Letras
Antigamente, capital humano se referia apenas ao número de anos cursados nas escolas. Hoje, resulta da quantidade e qualidade da educação, de saúde, cultura, esporte e muitas outras atividades que visam dar às pessoas melhor condição de vida e, com isso, elevar a sua contribuição para o crescimento econômico e para si próprias em termos de empregabilidade, mobilidade social e avanço de renda.
O Banco Mundial mostra que o Brasil está muito atrasado - ocupa o 81º lugar em 157 países analisados, estando atrás de Sri Lanka, Irã, Azerbajão, Malásia e outras nações pouco desenvolvidas. A principal causa desse atraso é a baixa qualidade do ensino e as limitadas oportunidades de formação profissional.
Esse é exatamente o campo de atuação das instituições do chamado Sistema S. No setor de comércio, serviços e turismo o papel do Senac na formação do capital humano é fácil de compreender em vista do seu nítido caráter educacional. O seu impacto direto no emprego e renda dos educandos, na produtividade e na competividade das empresas são comprovados por inúmeras pesquisas. Nas escolas do Senac, são formados e aperfeiçoados os profissionais mais demandados pelo mercado de trabalho brasileiro em tecnologia da informação, marketing digital, gestão de negócios, design, gastronomia e alimentação, hotelaria e turismo, idiomas, comunicações e artes, meio ambiente, enfermagem, farmácia, exames de imagens, ótica, odontologia, segurança no trabalho e inúmeras profissões do futuro tais como gestão de sustentabilidade, gestor de qualidade de vida, técnico em operações logísticas, especialista em computação na nuvem, gestor e operador de e-commerce e muitas outras. Em todas elas, a dimensão socioemocional é muito bem cuidada.
À luz do novo conceito de capital humano, a contribuição do Sesc é igualmente relevante. Além de suas atividades no campo da educação básica, do ensino médio e complementar e da educação de adultos, o Sesc desenvolve atividades estratégicas no campo da saúde, esportes e da cultura — literatura, teatro, cinema, música e dança que atingem desde a criança antes de nascer até os adultos e idosos que buscam atualização profissional e capacitação para o trabalho social e comunitário.
As pesquisas são inequívocas. As pessoas atendidas pelo Sesc e Senac gozam de melhor qualidade de vida, se empregam com mais facilidade, sofrem menos rotatividade e têm renda mais alta quando comparadas com pessoas que não recebem apoios nos campos da educação, saúde e formação profissional.
Tudo isso é mantido pela contribuição das empresas do comércio, serviços e turismo. Para as empresas, a melhoria do capital humano eleva a produtividade e a competitividade. Para os trabalhadores, representa mais emprego e melhor rendimento.
Por isso, um eventual corte dos recursos destinados a essas atividades redundará em perdas irreversíveis para as empresas, para os brasileiros e para a economia do país. Na verdade, o Brasil precisa ampliar as atividades voltadas para a formação do seu capital humano e não reduzir.
Paul Krugman, Prêmio Nobel de economia (2008), diz "que para o crescimento econômico, a produtividade não é tudo, mas é quase tudo. É razoável dizer, então, que, para melhorar a produtividade, a educação e a saúde não são tudo, mas são quase tudo.
Ao assinar a lei School-to-Work (1994), o presidente Bill Clinton disse: "Nós estamos vivendo em um mundo onde o que você ganha é função do que você pode aprender". Se isso era assim em 1994, imaginem hoje com a meteórica revolução tecnológica ora em andamento. O desafio para formar bem as pessoas aumentou muito e requer competência crescente. Afinal, formação profissional não é para amadores.