Pensar no futuro do país tornou-se hoje um exercício impossível. Muito mais difícil ainda é pensar nas próximas gerações, quando nos vemos diante de uma realidade atual que muda tão depressa, que mal temos tempo de refletir sobre suas causas e efeitos. O homem é o único animal sobre o planeta que evoluiu ao ponto de se tornar capaz de mentalmente projetar-se no futuro. Prever novas condições, antever obstáculos e traçar estratégias de sobrevivência. Foi essa característica especial que deu à nossa espécie a capacidade de enfrentar as hostilidades de um mundo agressivo, prevendo cada passo à medida que se transportava para o por vir.
Com essa ferramenta da mente é que o homem encontrou o caminho certo para sua perpetuação na face da Terra. Quando essa capacidade de previsão é interrompida ou cessada, por qualquer motivo que seja, a sobrevivência da espécie passa a correr séria ameaça. Quando deixamos de pensar no futuro do país, ele simplesmente deixa de existir a passa a obedecer às forças da inércia e do acaso, transformando-se, na maioria das vezes, naquilo que não queríamos e nem desejamos para as próximas gerações.
A questão é simples e se resume à pergunta: que futuro estará reservado para o país, quando assistimos a atuação ruinosa que está perpetrando? Se formos tomar o Brasil do futuro pelo que temos diante de nossos olhos, a coisa será feia.
Nesta semana, nossos representantes com assento no Congresso, promoveram uma anistia geral e surpreendente para os partidos, unindo fraternalmente legendas antagônicas, apenas para decretar o perdão, na prestação de contas dos milhões desviados e mal explicados, oriundos dos fundos partidários e eleitorais. As vozes roucas das leis. Para aquela pequena minoria que ousa caminhar na estrada da ética, se opondo aos desmandos, o que resta são ameaças e cassações. Quando as salvaguardas legais se transformam em armas e são usadas, sem disfarces, por vingadores, o respeito cede lugar ao medo e as leis perdem sua alma.
Que futuro pretendemos desfrutar, quando se assiste ao CNJ decretar o fim dos manicômios judiciários, colocando, de uma só vez nas ruas, milhares dos mais temidos e psicóticos criminosos? Que futuro é esse que nos espera, quando sentenças pesadas de crimes são revistas e anuladas? Quando os saidões de presos aumentam a insegurança e a impunidade? As interrogações são muitas e fazem de nosso futuro um tempo incerto e um lugar que, com certeza, não desejamos vir a estar.
Para aqueles que temiam com a possibilidade de o país vir a assistir à um novo fechamento político, semelhante ao acorrido em 1964, com a intervenção dos militares, decreto de sítio e outros instrumentos de força, pondo em suspenso a ordem institucional, a boa notícia é que nada disso ocorreu e o Brasil segue como sempre: deitado eternamente em berço esplêndido.
Quem esperava que as forças revolucionárias viriam, pela terra, pelo céu e pelo ar, armadas de fuzis e canhões, esperou em vão. Não se faz mais revolução como antigamente. Soldados armados não são mais necessários quando revoluções podem ser facilmente detonadas a partir de gabinetes refrigerados, sem a violências das armas e sem os incômodos estampidos de pólvora. Os canhões foram substituídos por canetas modestas, mas com infinito poder de fogo, capazes de aniquilar os inimigos do sistema com um simples traço no papel. As revoluções armadas cederem lugar à revolução burocrática dos papéis. Obuses, granadas e minas terrestres perderam a validade. Quem comanda agora essa nova revolução são decisões, despachos, leis, decretos, portarias e outros variados instrumentos de escritório, todos devidamente assentados em papel com selo d'água e chancelados por dezenas de carimbos oficiais.