Cultura

Artigo: Hábitos culturais no DF

A pesquisa abordou aspectos como consumo de filmes e séries, frequência ao cinema, consumo de artes cênicas na TV ou ao vivo, frequência a shows musicais e participação no carnaval

Frederico Bertholini e Lucio Rennó - Professores de Ciência Política da UnB e pesquisadores do Observa-DF

O relatório de maio do ObservaDF investigou hábitos culturais dos moradores do DF e alguns de seus determinantes. A pesquisa abordou aspectos como consumo de filmes e séries, frequência ao cinema, consumo de artes cênicas na TV ou ao vivo, frequência a shows musicais e participação no carnaval. Os resultados apontam a persistência de desigualdades socioeconômicas observadas em pesquisas anteriores, com renda familiar, RA de moradia e gênero sendo determinantes do acesso. Dessa vez, no entanto, além da desigualdade persistente, pudemos mapear algumas evidências da diversidade geracional e de religião no consumo de produtos culturais.

Para quem mora em Brasília, no geral, o streaming passou a ser o meio mais relevante de consumo, com cerca de 61% de adesão, superando a TV (com 55%). Seis em cada 10 moradores de Brasília assistem a filmes e séries pelo menos uma vez por semana. A frequência do consumo de filmes fora de casa, no entanto, é bem menor, as pessoas vão ao cinema uma vez a cada quatro meses em média. Novelas são o principal tipo de obra assistida pelos moradores da capital, quase metade deles assistiu a alguma nos últimos três meses. Programas de auditório, com 35%, e comédia, com 26%, vêm logo atrás.

Os shows apareceram como uma opção relevante, uma em cada quatro pessoas foi a um nos últimos três meses. Essa é a mesma proporção de pessoas que brincaram carnaval este ano,em atividades variadas. Cerca de 19% foi a uma festa de carnaval e 11% a um bloco. O teatro, por sua vez, não é tão frequentado, apenas 13% das pessoas assistiram a alguma peça nos últimos três meses. O morador de Brasília vai ao teatro, em média, aproximadamente uma vez a cada 10 meses.

Praticamente esses padrões diferem muito quando comparamos por renda familiar e RA de moradia. Se em relação à frequência de filmes e séries assistidos em casa não há tanta disparidade, quando olhamos para o padrão de acesso ao cinema, por exemplo, podemos notar que pessoas vivendo em famílias com renda familiar superior a 10 salários mínimos vão no cinema quase uma vez por mês, enquanto pessoas de famílias vivendo com até um salário mínimo mensal vão ao cinema uma vez a cada sete meses.

A renda também está intensamente associada à frequência a shows e à participação no carnaval, principalmente quando consideramos a RA de moradia. Entre moradores de áreas mais ricas e mais centrais, cerca de 30% foram a shows e 17% a blocos de carnaval, enquanto nas áreas de renda mais baixa esses percentuais são de 16% e 5%, respectivamente.

Tratando ainda de desigualdades no acesso, há que se destacar a preocupante disparidade de gênero encontrada. Temos que 14% dos homens foram a um bloco de carnaval e 24% foram a alguma festa, enquanto apenas 9% das mulheres foi a bloco e 15% participou de festa. Acreditamos que este fenômeno possa estar associado a uma sensação de insegurança das pessoas identificadas com o gênero feminino, pelo receio de sofrerem com importunação sexual e assédio.

As diferenças nos padrões de consumo e acesso à cultura, no entanto, nem sempre estão associadas a algum aspecto de desigualdade. A pesquisa também conseguiu capturar a relevância da diversidade geracional e religiosa do DF. Existe uma relação estatisticamente significante entre idade e participação no carnaval, presença em shows, ida ao cinema e consumo de filmes ou séries. Quanto mais jovem, maior o acesso. Apenas em relação a novelas e programas de auditório, isso não foi verificado. Pessoas de 60 anos ou mais vão ao cinema uma vez por ano, por exemplo, já pessoas entre 16 e 24 anos vão ao cinema uma vez a cada 2 meses.

Ser de religiões afro-brasileiras ou não ter religião aumenta a probabilidade de participação no carnaval, enquanto ser de religião evangélica pentecostal diminui a probabilidade de participação. Essa relação também se verifica em shows e no cinema. Ou seja, religião, como uma indicação das preferências morais individuais, afeta o consumo cultural. Portanto, não é só a renda que afeta o acesso, mas também escolhas pessoais que são orientadas geracionalmente e religiosamente.

 


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