EDUCAÇÃO

Artigo: Os pais no combate à violência nas escolas

As duas fases da vida que exigem mais atenção e acolhimento são os primeiros sete anos e os sete subsequentes, até os 14. É nessa idade que se formam as características de caráter, personalidade e valores e que se começa a experimentar o mundo lá fora

Rubens Decoussau Tilkian - Advogado especialista em mediação e gestão de conflitos

Ante a triste recorrência de ataques e assassinatos nas escolas, é necessária uma análise holística do problema para entender suas causas e combatê-lo de modo eficaz. A externalização dessa violência injustificável tem, na realidade, raízes em conflitos internos que não foram devidamente tratados na origem. A questão é complexa, a começar pelo fato de muitos pais, diante de uma vida atarefada, delegarem a educação e o cuidado dos filhos aos professores. Porém, a finalidade precípua das escolas é a formação acadêmica.

As duas fases da vida que exigem mais atenção e acolhimento são os primeiros sete anos e os sete subsequentes, até os 14. É nessa idade que se formam as características de caráter, personalidade e valores e que se começa a experimentar o mundo lá fora. A ausência dos pais na vida das crianças a deixam no modo automático, suscetíveis e expostas a todas as interferências e opiniões externas, sem filtros e orientação para enfrentar seus problemas.

Consequentemente tem-se, de um lado, o excesso de liberdade e, de outro, insegurança. Assim, problemas de comportamento e relacionamento começam a ocorrer e com enormes dificuldades de serem contidos, pois a criança não aprendeu sobre os limites da vida e não entende que seu direito termina onde começa o dos outros. Agressões em sala de aula, bullying, desrespeito aos professores e aos colegas e falta de empatia e solidariedade tornam-se recorrentes. O mais preocupante é que alguns pais, infelizes com o desenvolvimento dos filhos, insistem em projetar a culpa do insucesso na escola e não têm tempo ou inteligência emocional para contribuir.

Soma-se a isso a presença das mídias sociais, cujas consequências - não só às crianças - podem ser terríveis. Não saber lidar com suas dinâmicas é o caminho certo para a baixa autoestima e a depressão. O ser humano muito além da superficial imagem do mundo virtual. Nosso verdadeiro olhar deve ir muito além das cascas. Ou seja, enxergar e estar em contato com a verdadeira essência das pessoas. Isso é justamente o que as redes ajudam a esconder muito bem, de modo a passar uma imagem às crianças de que tudo está perfeito lá fora, gerando a falsa e perigosa impressão de que as inseguranças e medos ocorrem apenas com elas.

As crianças e os adolescentes devem ser verdadeiramente escutados e trabalhados em suas forças e fraquezas, para que tenham consciência de que as dificuldades estão presentes na vida de todos. Na falta dessa orientação, eles não se fortalecerão e acabarão apoiando-se em muitas ideias estapafúrdias disponíveis na Internet, alimentando ódio ou buscando fuga nos mais variados vícios.

Outro problema refere-se à forma como o processo de inclusão está ocorrendo. Tamanha é a vontade de determinadas pessoas de promover a inclusão de uns que acabam forçando um caminho perigoso de exclusão de outros. Para incluir, não é necessário excluir. Com isso, aquilo que deveria ser um processo orgânico passa a ser algo forçado e não planejado, fazendo com que o próprio incluído se sinta uma peça estranha no tabuleiro. O efeito torna-se rebote.

Não se deve, por exemplo, terminar com o Dia dos Pais e o Dia das Mães para dar lugar ao Dia da Família. Que façam todos, pois podem coexistir em harmonia. Excluir os primeiros, como vem acontecendo, gerará polarização e desarmonia no processo de inclusão.

Algo que pode contribuir é uma dinâmica em círculos nas escolas, ministrada por profissionais especialistas e com participação assistida dos pais, a fim de permitir que crianças trabalhem suas forças e fraquezas, enaltecendo o seu lado bom e gerando união e compaixão para apoio nos temas de maior dificuldade. Com isso, percebem que a vida vai muito além daquilo que os olhos veem. Aprendem a enxergar verdadeiramente o outro e legitimar suas dificuldades, nomear os seus sentimentos e dos amigos, estender a mão e ajudar quando possível. Isso evita substancialmente o advento do conflito e gera empatia e união, e as crianças têm muito menos chances de se sentir excluídas, inseguras, debochadas ou criticadas, num verdadeiro processo de melhoria e evolução coletivo.

Esse círculo restaurativo ajudará as escolas na criação de um ambiente seguro e de conforto às crianças para poderem externar e tratar coletivamente suas necessidades. Com isso, os alunos são fortalecidos internamente, afastando-se os males do bullying e gerando espírito de união. Cada um contribui um pouco para o fortalecimento do outro.

Essa é uma das formas poderosas de comunicação e neutralização dos problemas nas escolas. É um modo de valorizar as características de cada um e ajudar as crianças a entenderem que todos passarão, ao longo da vida, pelo desafio de desenvolverem e enfrentarem suas dificuldades. Esses círculos também proporcionarão o fortalecimento pessoal das crianças, para que fiquem mais bem-preparadas para os conflitos internos e externos, evitando que essas interferências as abalem. Forma não apenas crianças mais seguras, mas, em alguns anos, adultos bem-resolvidos e mentalmente saudáveis. Em qualquer canto do mundo onde houver crianças felizes, haverá sonhos, alegria e esperança de um futuro melhor.

 


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