Antes de falar do Botafogo, você lembra da campanha do Marrocos na Copa do Catar? A seleção africana termina em quarto lugar tendo menos posse de bola do que todos os adversários: Croácia, Bélgica, Canadá, Espanha, Portugal, França e novamente a Croácia na disputa pelo terceiro lugar. Nas oitavas, o time de Wahid Regragui teve 23% contra 77% diante da Espanha. Suportou o tempo regulamentar, a prorrogação e avançou nos pênaltis. Havia marcação, intensidade, velocidade na transição e consciência de que era preciso aproveitar o mínimo espaço para minar o adversário. Controlar o jogo sem a bola também é uma arte no futebol. Das mais lindas e desafiadoras!
Líder do Brasileirão há três rodadas consecutivas, o Botafogo lembra Marrocos. Inclusive na surpreendente largada. Quem apostava na classificação na fase de grupos contra Bélgica, Croácia e Canadá? Alguém diria que o Glorioso estaria em primeiro na quinta volta da Série A com 100% de aproveitamento? Se o goleiro Bono era um dos caras do Marrocos, com intervenções miraculosas, Lucas Perri é um dos protagonistas do Botafogo. A trava de segurança da segunda melhor defesa da Série A.
O Botafogo enfrentou o São Paulo na estreia. O técnico tricolor ainda era Rogério Ceni. Os times do ex-goleiro gostam de ficar com a bola. O Alvinegro não se sentiu incomodado. Conseguiu se adaptar ao jogo e fez muito com tão pouco. Venceu por 2 x 1 com apenas 32% de posse contra 68% do adversário.
Na segunda rodada, foi a Salvador enfrentar o Bahia. O time do português Renato Paiva perdeu para o Botafogo por 2 x 1 ostentando 60% de posse. O Glorioso construiu o resultado com 40% e saiu de Salvador cheio de axé.
Jorge Sampaoli assumiu o Flamengo cobrando respeito à bola. Atual campeão da Libertadores e da Copa do Brasil, o elenco mais caro e badalado da América do Sul teve a bola nos pés durante 74% do clássico. O Botafogo precisou de 26% para triunfar por 3 x 2.
O adversário na quarta rodada era o Atlético-MG. Eduardo Coudet gosta da bola, do controle da partida para exercer pressão, se impor. O Galo saiu do Nilton Santos com posse de 61%, porém o Botafogo ganhou três pontos. Venceu o adversário com 39% de controle.
Lembro-me de ter participado, em Doha, no Catar, da entrevista do técnico do Marrocos Wahid Regragui antes da semifinal contra a França. Ele ironizou: "Se a Fifa começar a dar pontos por posse de bola, aí será diferente. Não queremos percentual, queremos vencer".
O Botafogo também não quer percentual, deseja vencer, mas há uma boa notícia para a torcida alvinegra. O líder mostrou na vitória por 3 x 0 contra o Corinthians habilidade para controlar o adversário tendo a posse da bola. 53% x 47%. Há repertório. O Glorioso não é samba de uma nota só. Resta saber se o bom time de Luis Castro será apenas sensação à la Marrocos, ou realidade como o histórico Botafogo de 1995.