Economia

Artigo: Nada de surpresas no Banco Central

O governo indicou dois nomes para a diretoria do Banco Central, instituição que tem recebido muitas críticas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e de empresários, por causa da taxa básica de juros (Selic), de 13,75% ao ano, a mais elevada em sete anos. Gabriel Galípolo, atual secretário executivo do Ministério da Fazenda, deverá ocupar a área de Política Monetária, e Ailton Aquino dos Santos, funcionário de carreira do BC há 25 anos, a de Fiscalização. Tais nomeações, se aprovadas pelo Senado, devem ser vistas como um movimento de rotina, não como uma declaração de guerra dentro do órgão que tem a nobre missão de manter a inflação sob controle para garantir o poder de compra da população, sobretudo, a mais pobre.

Lula tem aproveitado muitas de suas declarações públicas para confrontar o presidente do BC, Roberto Campos Neto, sob o argumento de que os atuais níveis da taxa Selic inibem o crescimento da economia e, por consequência, a geração de empregos e o aumento da renda. Trata-se de uma posição política, mas o chefe do Executivo precisa compreender o papel técnico do Banco Central. Não será a partir da nomeação de dois diretores que o posicionamento atual da autoridade monetária vai mudar, ainda que o debate no comando do órgão passe a incluir visões distintas, o que é saudável para todos.

Desde a adoção de regime de metas de inflação, em 1999, o Banco Central tem feito um trabalho importante para manter a credibilidade da política monetária. É verdade que, em todos esses anos, houve erros e exageros por parte da instituição. Porém, no cômputo geral, o BC manteve firme a credibilidade que construiu. A sociedade — em especial, os formadores de preços — precisa acreditar que o custo de vida não sairá do controle, o que não é tarefa fácil num país com um péssimo histórico de inflação descontrolada. Tentar destruir esse pilar de previsibilidade custará caro para o país, que não cresce há mais de uma década.

A independência do Banco Central, garantida em lei, é um escudo importante contra ingerências políticas na instituição. Contudo, um tiroteio constante contra o órgão e o que decide o Comitê de Política Monetária (Copom) acaba solidificando a desconfiança. Para um Brasil que precisa urgentemente impulsionar a atividade econômica e melhorar a qualidade de vida da população, esse não é o caminho adequado. Pelo contrário. O momento exige serenidade e bom-senso, com o Executivo fazendo, da melhor forma possível, o que lhe cabe e o BC, corrigindo o que for necessário. É do jogo democrático.

Ao anunciar os nomes dos dois indicados para o Banco Central, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, serenamente, disse que todos vão respeitar as leis e trabalhar, conjuntamente, para baixar a inflação, retomar o crescimento da economia e garantir a justiça social. Não há espaço para estripulias. Governo e BC, portanto, devem manter uma sintonia civilizada em prol do país. Optar por um ambiente tensionado resulta em menor apetite por parte do capital privado em tirar projetos de investimentos das gavetas, fundamentais para que o Produto Interno Bruto (PIB) saia da letargia em que se encontra.

O Senado, certamente, não terá problemas para aprovar os nomes de Galípolo e de Aquino dos Santos — por sinal, o primeiro negro a assumir uma diretoria do Banco Central. O atual presidente da instituição já indicou ver os dois futuros diretores com muito bons olhos. O BC não será um estorvo para o país, que tem uma longa lista de problemas a enfrentar para entregar o que a sociedade mais deseja: uma economia em crescimento, com inflação sob controle, empresários e consumidores confiantes e oportunidades para todos. Nada além do trivial. O Brasil tem pressa.

 


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