OPINIÃO

Visão do Correio: 'Os perigos do mundo digital'

"Estudo mostrou que, dos cerca de 24 milhões (92%) de crianças e adolescentes brasileiros de 9 a 17 anos usuários de internet, 86% reportaram ter perfil em redes sociais"

O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) acaba de divulgar a 9ª edição da pesquisa "TIC Kids On-line Brasil 2022", com dados sobre as principais tendências quanto ao acesso e uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) por crianças e adolescentes. O levantamento revela indicadores sobre riscos e oportunidades relacionados à participação on-line da população brasileira, que inclui a faixa etária de 9 a 17 anos.

O estudo mostrou que, dos cerca de 24 milhões (92%) de crianças e adolescentes brasileiros de 9 a 17 anos usuários de internet, 86% reportaram ter perfil em redes sociais — o que corresponde a aproximadamente 21 milhões. Embora a participação em redes sociais ocorra em altas proporções em todas as faixas etárias, entre 15 e 17 anos atingiu praticamente a totalidade dos usuários de internet: 96%.

Entre os hábitos de lazer mais praticados, crianças e jovens ouvem música (87%), assistem a vídeos, programas, filmes ou séries (82%), enviam mensagens instantâneas (79%) e jogam conectados com outros jogadores (58%).

O telefone celular lidera a preferência de crianças e jovens para se conectar à internet (96%), sendo que ele foi o único dispositivo utilizado por 56% dos usuários. O acesso à rede pelos usuários de 9 a 17 anos via computadores foi de 43%, porcentagem menor do que os que se conectaram pela televisão (63%).

Nos 12 meses anteriores ao estudo, apenas 34% dos entrevistados procuraram informações sobre saúde na internet e 39% disseram que a internet os ajudou a lidar melhor com problemas de saúde.

Os números reproduzem o fato de que crianças e jovens estão expostos a uma avalanche de informações — e por que não dizer "tentações" — no mundo das telas. Como pano de fundo, os pais tentam se atualizar, cercar seus filhos aqui e ali de um mundo nem sempre tão fantasioso assim.

Vício em games, golpes "sexuais", financeiros, ameaças, bullying e brincadeiras "perigosas", automutilação, violência e "sextorsão" (extorsão após compartilhamento de fotos íntimas), que nem sempre são do conhecimento dos adultos.

A questão é mundial. Os provedores de serviços eletrônicos têm a obrigação legal de denunciar o material de abuso sexual infantil quando tomam conhecimento dele. Nos últimos anos, empresas de tecnologia e empresas de mídia social vêm desenvolvendo ferramentas cada vez mais poderosas para identificar e remover proativamente o abuso on-line. Mas os efeitos são pouco eficazes.

A agência que trata da segurança para crianças e adolescentes nos Estados Unidos recebeu mais de 32 milhões de relatos envolvendo aliciamento on-line, material de abuso sexual infantil e tráfico sexual infantil em 2022 — cerca de 2,7 milhões a mais do que no ano anterior, um avanço de 8,4%.

Enfim, enquanto a tríade fiscalização das autoridades, monitoramento por parte dos pais e prisão dos criminosos virtuais não funcionar, vamos assistir a histórias negativas envolvendo nossas crianças e jovens.

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