Por HAYANE CALAÇA - Especialista em empreendedorismo
Que a maternidade não é fácil, todo mundo sabe. Vai desde a primeira troca de fralda, passa pelas noites mal dormidas quando o bebê não quer dormir, e vai até a preocupação com o futuro e as escolhas que o filho venha a fazer. Essa, sem dúvida, é uma missão que exige muita responsabilidade, tranquilidade e amor, muito amor. Toda mãe sonha poder acompanhar cada etapa da vida do filho. Ter de abrir mão de estar presente em algumas delas com certeza é um desafio.
Mas, além do desafio da maternidade, há o de conciliar a criação dos filhos com a carreira profissional. Mas antes de entrar nessa questão, deve-se chamar a atenção para o fato de que uma mulher enfrenta diversas barreiras no mercado profissional e, quando se tem filhos, parece que a situação é pior. Ainda que o mundo esteja em constante evolução, as mulheres têm de disputar espaço com os homens — e a disputa nem sempre é igual, o que abre espaço para um problema de autoconfiança em relação ao fato de se ela está pronta ou não para dar conta do recado. E, por fim, um dos maiores problemas como já dito: a dupla jornada dividida entre o trabalho e os cuidados com a casa e os filhos.
Ainda que as mulheres se mostrem cada vez mais qualificadas e capazes de cuidar tanto da vida profissional quando da pessoal, ainda há um entrave no mercado de trabalho quanto àquelas que optam pela maternidade, já que, para dar conta do trabalho e da casa, muitas mães têm de abrir mão do precioso tempo com os filhos. E justamente para não ter de perder cada fase da vida do filho é que muitas delas preferem abrir o próprio negócio. Isso é, além da independência financeira e da oportunidade de atuar na área de que gosta, a mulher poderá ter maior proximidade com os filhos.
Abri minha primeira loja com apenas 18 anos de idade, com o apoio do meu pai. O negócio, que era uma loja de multimarcas, logo obteve sucesso devido à alta demanda dos produtos e passou por um projeto de expansão. Em pouco tempo conseguimos expandir e foi necessária até a criação de um CD, que é o nosso centro de distribuição, onde fazemos a logística de mercadorias e definimos o que e a quantidade de produtos que deverá ir pra cada loja. Mesmo durante a pandemia da covid-19, foi possível manter as lojas em pleno funcionamento, contando com a ajuda de 100% dos meus colaboradores, os quais consegui manter apesar da pandemia. Atualmente, são nove lojas. Mas, apesar de toda essa correria para administrar minha empresa, eu não abro mão de acompanhar o desenvolvimento do meu filho, o pequeno Davi, de dois anos, de pertinho.
A mulher está sempre com muita culpa de não conseguir conciliar tudo, né? Mas eu agora estou num momento que consigo acompanhar e ficar mais próxima do Davi devido à forma de gestão que criei. E, também, graças à tecnologia, consigo resolver muitas demandas trabalhando em casa. Normalmente, pela manhã, trabalho em sistema home office, o que me ajuda a estar mais próxima dele.
Mas nem tudo é tão simples assim. Após o nascimento do Davi, em 2020, em meio à pandemia, tive o diagnóstico de depressão pós-parto, e dar conta de tudo isso foi uma das dificuldades que enfrentei. Foi um momento muito delicado. Eu me vi bem perdida porque precisava dar conta do trabalho, tinha que pensar em meus colaboradores (afinal estávamos em uma pandemia), precisava dar conta do meu filho e precisava dar conta de mim. Agora eu estou bem porque me tratei, mas percebi que equilibrar a balança e dar conta de tudo é impossível. Por esse motivo, também fiquei muito mais sensível às minhas colaboradoras, principalmente quando estão grávidas, pois consigo entender que cada gestação é única e tem suas peculiaridades.
Após 16 anos de empreendedorismo, não consigo imaginar como seria minha vida sem meu filho. Apesar das dificuldades que o empreendedorismo traz, do tempo que demanda e todas as responsabilidades que traz consigo, minha vida se tornou mais completa com a chegada de Davi.