A cozinha de uma Redação é um fazer constante e ininterrupto, que por vezes nos coloca em modo de trabalho permanente e automatizado. Mas a sala do jornalista é a rua. E, em meio a tantos encontros virtuais, sair para ver o mundo real e encontrar pessoas é abrir uma janela para uma escuta verdadeira e um olhar mais profundo para a realidade. Na rua, abraçamos ideias e causas. Na rua, trocamos, ouvimos e contamos histórias.
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Tenho experimentado a sensação de encontros reais. Na semana que passou, fui convidada para um almoço no Gentil Café, cafeteria da família Gentil, que tem à frente as irmãs empreendedoras, filhas de Sara e Antônio, uma gente que cultiva encontros reais, que abre casa e café para saraus literários, para músicos locais, para a cultura e para o ativismo de mulheres.
A pauta do dia era a luta de vários coletivos de mulheres para garantir maior participação feminina, em especial de mulheres pretas, no Supremo Tribunal Federal, que abrirá duas vagas neste governo. Uma delas disse: "Não queremos substituir mulheres por outras mulheres; queremos ocupar vagas que sempre foram de homens".
O que eu vi ali foi um grupo potente de mulheres da área jurídica, brancas e pretas, jovens e maduras, em comunhão por uma causa que transforma. Está dito e é real que só haverá transformação com as mulheres ocupando os espaços de poder na alta liderança do Executivo, Legislativo e Judiciário.
Cada uma, a seu modo, destacou a potência do encontro para forçar portas que nunca foram abertas sem luta. Me senti muito bem representada, acolhida e forte com essa rede de apoio. Sem competição, concorrência, disputa. Apenas união e sororidade para desbravar novos caminhos até as conquistas necessárias.
Uma delas, a defensora pública federal Liana Dani, participou do podcast do Correio Braziliense na última semana. Falou da importância de garantir mais mulheres no topo dos tribunais. Para ela, é fundamental um olhar feminino sobre os problemas brasileiros, mostrando uma perspectiva distinta daquela vista e apresentada por homens brancos.
Também estive no almoço de lançamento do Prêmio Nacional de Educação Fiscal, um ambiente onde a maioria era masculina. Mas havia também mulheres incríveis e poderosas, ocupando espaços estratégicos em um setor normalmente dominado por homens. Entre elas, a professora Maria de Fátima Pessoa de Mello Cartaxo, responsável pela criação do programa de Educação Fiscal.
Foi ao lado delas que sentei e ali apurei novamente minha escuta, aprendi e percebi o quão potente, prazeroso e importante é estar em comunhão com grupos de mulheres que estão lutando no dia a dia por mais espaço, inclusão, diversidade e justiça social.