EDITORIAL

Visão do Correio: Brasileiros reféns do Aedes aegypti

"A explosão da tríplice epidemia levou o Ministério da Saúde a lançar, nesta quinta-feira, a campanha Brasil unido contra a dengue, zika e chikungunya"

O Brasil se encontra, mais uma vez, refém do mosquito Aedes aegypti, transmissor dos vírus de dengue, chikungunya, zika e febre amarela. A tríplice epidemia, que ocorre sempre no período chuvoso, afeta 71% dos municípios. Nos primeiros quatro meses deste ano, foram constatados 899,5 mil casos de dengue, com 333 mortes. Um aumento de 30% nas ocorrências em comparação a igual período de 2022 (690,8 mil casos). Até o fim de abril, foram identificados 86,9 mil casos de chikungunya — alta de 40% —, e 19 óbitos confirmados. O número de brasileiros com zika teve um salto de 289%, em relação ao ano anterior, com 6,2 mil indivíduos infectados, mas sem nenhum registro de morte.

Para a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, entre os fatores que contribuíram para o aumento das doenças provocadas pelo mosquito estão o elevado volume de chuvas, as variações climáticas e a mudança na circulação de sorotipo do vírus. Ela adiantou que entre as estratégias de enfrentamento da crise, o ministério usará novas tecnologias, como a de tornar estéril o mosquito. Segundo a secretária, o ideal é combater a larva e impedir a reprodução do inseto.

A explosão da tríplice epidemia levou o Ministério da Saúde a lançar, nesta quinta-feira, a campanha Brasil unido contra a dengue, zika e chikungunya. Mas o esforço governamental exige uma estreita parceria com todos os brasileiros, para conter o avanço dessa crise sanitária que é mais expressivo nos estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Acre, Rondônia e Tocantins, o que não exime as demais unidades da Federação do ataque do Aedes aegypti.

A colaboração da sociedade passa, necessariamente, pelos cuidados recomendados pelos especialistas, tais como: verificar se a caixa d'água está bem tampada; deixar as lixeiras bem tampadas; colocar areia nos pratos de plantas; recolher e acondicionar o lixo do quintal; limpar as calhas; cobrir piscinas; tapar os ralos e baixar as tampas dos vasos sanitários; e limpar a bandeja externa da geladeira.

Hoje, 62,5 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza, uma das sequelas da pandemia da covid-19. Antes da crise sanitária mundial, tamanha calamidade era vivenciada por 51,7 milhões de pessoas. A estratégia do Ministério da Saúde para atacar os danos causados pelo mosquito tem um viés relacionado à pobreza. Mas não é só o aspecto socioeconômico que impacta a saúde dos cidadãos.

A desorganização da ocupação do solo e precariedade na urbanização, fornecimento irregular de água e de coleta de lixo, a falta de saneamento básico e dificuldades de acesso à educação para a saúde estão entre os fatores que comprometem as ações em favor da salubridade da sociedade. Assim, é essencial que haja políticas públicas que corrijam os trágicos cenários, sobretudo nas periferias das cidades, onde a pobreza está concentrada. A desigualdade crônica impede que a maioria dos brasileiros desfrutem dos avanços sociais e econômicos conquistados pelo país, com impacto direto na saúde da população. Isso precisa mudar e com urgência.

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