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EDITORIAL

Visão do Correio: A extrema direita ameaça a Europa

"A nova conquista da direita conservadora se deu na Espanha, onde o Partido Popular (PP), aliado ao Vox, de extrema direita, obteve a maioria dos votos nas eleições regionais de domingo"

Bandeira da União Europeia -  (crédito: Freepik)
Bandeira da União Europeia - (crédito: Freepik)
postado em 30/05/2023 06:00

O crescimento da extrema direita na Europa tem se mostrado consistente e está longe de seu ápice. Com a população enraivecida diante da disparada da inflação, cujos índices atingiram níveis sem precedentes desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o discurso populista da ultradireita tem se solidificado, sobretudo na classe média, que vê suas conquistas históricas ameaçadas por governos que, no entender dessa camada da população, já não atendem seus anseios. O caldeirão de insatisfação é engrossado pelas constantes ondas de imigração, que, para os europeus menos esclarecidos, significam ameaça real a seus empregos e à política de bem-estar que faz da região uma das menos desiguais do mundo.

A nova conquista da direita conservadora se deu na Espanha, onde o Partido Popular (PP), aliado ao Vox, de extrema direita, obteve a maioria dos votos nas eleições regionais de domingo. O PP retirou do Partido Socialista, do primeiro-ministro Pedro Sánchez, o comando de 10 regiões, algumas delas redutos históricos de legendas de esquerda. Na tentativa de evitar um desgaste maior e de conter o avanço da ultradireita, Sánchez dissolveu o Parlamento e convocou eleições gerais para 23 de julho, pleito que só ocorreria no fim deste ano. Ele acredita que, com essa tacada, ainda conseguirá garantir a maioria parlamentar com a sua agremiação, hoje fechada com o Podemos, de extrema esquerda. Não será tarefa fácil.

O movimento conservador na Espanha abriga parte dos grupos racistas e xenófobos que decidiram mostrar a cara sem constrangimento. O mesmo ocorre em Portugal, em que o Chega, de extrema direita, é o partido que mais cresce nas pesquisas de intenção de votos. A musculatura ganhada pela legenda se alimenta do péssimo momento vivido pelo governo do socialista António Costa, enredado em crises que já derrubaram mais da metade de seu ministério. A insatisfação nas ruas é grande, apesar dos constantes programas anunciados pelo Estado para amenizar os efeitos da carestia no orçamento das famílias. Com maioria absoluta no Parlamento, o Partido Socialista vê seu capital derreter.

Há, inclusive, forte pressão para que o presidente português, Marcelo Rebelo de Souza, dissolva a Assembleia da República e antecipe as eleições gerais. O político, porém, teme que o PSD, de direita e principal legenda de oposição, se alie ao Chega e tome o poder. Seria, no entender dele, um retrocesso inaceitável para um país que está a caminho de completar 50 anos da Revolução dos Cravos, que livrou Portugal de décadas da ditadura de António Salazar, período em que a miséria imperou no país europeu. Os portugueses mais progressistas alertam para o perigo de a península Ibérica se juntar aos ultraconservadores que assumiram o comando de Itália, Suécia, Finlândia, Polônia e Hungria e ameaçam a França.

Impactada pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a Europa está sendo obrigada a lidar com uma Turquia que já se transformou em uma autocracia. Pouco mais da metade dos 64 milhões de eleitores daquele país deram o quinto mandato, no domingo, a Recep Erdogan. No total, ele ficará 25 anos no poder — isso, se não se perpetuar no cargo. Os mapas de votação indicaram que o líder turco mantém uma base resiliente entre conservadores e religiosos, que têm sancionado todas as ações do governo para a derrocada da democracia. O cerceamento à liberdade de expressão é evidente, assim como a perseguição a adversários políticos e a opressão às minorias étnicas e às comunidades LGBTQIA .

Ainda há tempo de os europeus interromperem uma virada radical na região, onde a intolerância e o ódio levaram a duas grandes guerras. Infelizmente, não há hoje lideranças moderadas expressivas para conter os radicais da ultradireita. Desde a saída de Angela Merkel do governo alemão, um vácuo se abriu. Há um terreno fértil para que populistas que pregam a segregação, o fechamento de fronteiras e a destruição de políticas sociais incutam entre os insatisfeitos a visão de que eles são a solução para todos os problemas de uma Europa enfraquecida. Que o bom senso prevaleça.

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