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Artigo: Ecos do G7

"Luiz Inácio persiste em apregoar sua crença num mundo multipolar, sem potência dominante. Sua guerra particular contra o dólar americano mostra isso"

 (Top row, L-R) US President Joe Biden, Canada's Prime Minister Justin Trudeau, Australia's Prime Minister Anthony Albanese, European Commission President Ursula von der Leyen, Executive Director of the International Energy Agency Fatih Birol, (bottom row L-R) Japan's Prime Minister Fumio Kishida, Comoros' President Azali Assoumani, Brazil's President Luiz Inacio Lula de Silva, Vietnam's Prime Minister Pham Minh Chinh and Britain's Prime Minister Rishi Sunak pose for a family photo of leaders of the G7 and invited countries during the G7 Leaders' Summit in Hiroshima on May 20, 2023. (Photo by Jacques WITT / POOL / AFP)
       -  (crédito:  AFP)
(Top row, L-R) US President Joe Biden, Canada's Prime Minister Justin Trudeau, Australia's Prime Minister Anthony Albanese, European Commission President Ursula von der Leyen, Executive Director of the International Energy Agency Fatih Birol, (bottom row L-R) Japan's Prime Minister Fumio Kishida, Comoros' President Azali Assoumani, Brazil's President Luiz Inacio Lula de Silva, Vietnam's Prime Minister Pham Minh Chinh and Britain's Prime Minister Rishi Sunak pose for a family photo of leaders of the G7 and invited countries during the G7 Leaders' Summit in Hiroshima on May 20, 2023. (Photo by Jacques WITT / POOL / AFP) - (crédito: AFP)
José Horta Manzano
postado em 27/05/2023 06:00

"Nós, os líderes do Grupo dos Sete (G7), [...] estamos tomando medidas para apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário em face daguerra ilegal de agressão da Rússia." Essas são as primeiras palavras do comunicado final da cúpula do G7, havida recentemente em Hiroshima. O longo texto, firmado pelos dirigentes das democracias que integram o grupo, se estende por 19 mil palavras distribuídas em 66 tópicos. A abrangência do documento é vasta: valores comuns, não proliferação de armas nucleares, tensões na região indo-pacífica, economia global e dezenas de outros pontos. Assim mesmo, a menção à "guerra de agressão da Rússia" em primeiríssimo lugar mostra a importância que ela assumiu aos olhos das democracias mais maduras.

O Brasil, em nome de sabe-se lá que doutrina, está em dissonância com a unanimidade exibida pelas três dezenas de países que compõem o dito Ocidente. Em março passado, comentando decisões estabanadas do governo brasileiro, uma agência de notícias comentou: "Nas últimas semanas, o Brasil de Lula enviou uma delegação à Venezuela, recusou-se a assinar uma resolução da ONU condenando as violações dos direitos humanos na Nicarágua, permitiu que navios de guerra iranianos atracassem no Rio de Janeiro e recusou-se a enviar armas para a Ucrânia, em guerra com a Rússia".

Como se vê, depois do calamitoso quadriênio Bolsonaro, o Brasil é escrutado com atenção. Quanto à guerra na Ucrânia, Lula permanece mergulhado num negativismo obstinado, incapaz de enxergar a realidade cristalina: a Ucrânia, país independente, livre e soberano, foi brutalmente invadida por tropas russas, em guerra de conquista territorial. Parece que Luiz Inácio (e assessores) são os últimos que resistem a admitir isso. Nosso presidente insiste em enroscar-se com declarações tiradas do bolso do colete. Já disse que "a decisão pelo conflito foi tomada por dois países", um descalabro. Referindo-se à Crimeia, já declarou que "a Ucrânia, também, não pode querer tudo", outra barbaridade. "Não cabe a mim decidir de quem é a Crimeia ou o Donbas", declarou um Lula esquecido de que o Brasil foi um dos primeiros, 30 anos atrás, a reconhecer a Ucrânia, dentro de suas fronteiras oficiais.

Luiz Inácio persiste em apregoar sua crença num mundo multipolar, sem potência dominante. Sua guerra particular contra o dólar americano mostra isso. Quer Lula goste ou não, sua sonhada utopia está cada dia mais longe. A impressionante evolução da China, impensável 20 anos atrás, embaralhou as cartas do jogo mundial. Os EUA não estão em declínio, apesar do que Lula da Silva possa almejar. A Rússia, essa sim, tem decaído. Portanto, não é preciso consultar uma bola de cristal para saber como será o equilíbrio de forças nas próximas décadas: teremos a volta da guerra fria — que já aponta na esquina. De um lado, a China e seus aliados; de outro, os Estados Unidos e o Ocidente.

O país de Putin, empobrecido, desprestigiado e privado de projeção internacional, será fatalmente atraído para a órbita da China, país do qual está se tornando vassalo. Sem o amparo chinês, a Rússia teria enorme dificuldade para sobreviver. Essa nova e previsível divisão do equilíbrio mundial entre dois polos (EUA e China) está por trás da intensa movimentação da diplomacia comercial mundial destes últimos anos. Países de peso territorial, populacional e econômico estão sendo cortejados. Está aí a razão do convite de participação estendido a Brasil, Vietnã, Indonésia, União Africana, Coreia do Sul e outros.

Lula já deu um grande passo ao declarar, em discurso oficial no G7, que o Brasil condena a violação do território da Ucrânia. Por fim, um posicionamento menos inquietante. O bom senso informa que nosso país, por sua história, língua e cultura, faz parte do mundo ocidental. Por mais que respeitemos a civilização chinesa e a russa, não descendemos de lá. A árvore genealógica de nosso povo nos prende ao mundo atlântico, na encruzilhada África, Europa e América.

Lula e o Itamaraty precisam reconhecer que um país invadido por tropas estrangeiras tem o direito (e o dever) de se defender. Ajudá-lo a repelir o invasor não é "tomar um lado"; é respeito ao direito internacional. Presidente, deixe de lado a vaidade de ser aquele que pôs fim à guerra — quimera que não se realizará. Mostre empatia para com os infelizes ucranianos e reponha o Brasil nos trilhos da civilização. O futuro vai lhe agradecer.

*José Horta Manzano, Empresário

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