É preciso dar uma basta na amplificação do discurso de ódio. Na mesma semana que presenciamos as deploráveis cenas de racismo no Campeonato Espanhol contra o craque brasileiro Vinícius Jr., a loja de aplicativos do Google passou a oferecer o game Simulador de escravidão. O jogo eletrônico simulava pessoas negras que podiam ser castigadas ao longo das partidas. Após uma intensa pressão nas redes sociais, a big tech voltou atrás e proibiu o download.
Em primeiro lugar, só o fato de o tal Simulador de escravidão estar disponível legalmente a todos os usuários Android no país mostra que a regulação das plataformas digitais é mais do que necessária. É preciso que tenhamos regras claras de responsabilização a quem propaga o discurso de ódio. Nesse caso específico, a responsabilização é apenas de quem produz o conteúdo? Ou deveria ser ampliado a quem ajuda a expandir, no caso a plataforma que não teve o filtro necessário para barrar o aplicativo? É um dos pontos que necessita de ampla discussão entre deputados e senadores.
Já em relação a Vini Jr, a escalada das agressões ao jogador brasileiro era, infelizmente, mais do que previsível. Sem punições severas anteriores, os racistas sentiram-se à vontade para continuar a achacar o atleta. Com toda a repercussão mundial existente desde domingo, a expectativa é que tudo mude de agora em diante. Tanto que torcedores do Valencia foram denunciados, pela primeira vez, por crime de ódio contra o atacante, chamado de "macaco" por parte do estádio no domingo passado.
Os torcedores, no entanto, ainda não são réus. O caso será primeiro analisado por um tribunal de instrução — ao contrário do Brasil, na Espanha, as denúncias do Ministério Público passam por essa instância antes que um juiz decida se os acusados vão responder criminalmente. A expectativa de todos é que a impunidade não impere. Os fatos são gravíssimos. A falta de uma resposta à altura só servirá para corroborar a tese de que o combate ao racismo não é prioridade.
Defender o Real Madrid é um sonho de nove entre 10 jogadores de futebol. Se Vini Jr. ameaça ir embora, é porque a situação está insustentável. Como bem alertou um dos veículos de comunicação mais influentes do mundo, o The New York Times, se o atleta decidir deixar o futebol espanhol devido ao abuso regular que sofre no país, a responsabilidade é puramente das entidades espanholas por conta da eterna omissão. As agressões ocorridas não são apenas uma manifestação em um estádio de futebol. São a triste representação de uma parcela da sociedade.
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