Os desafios da escola vão além dos estruturais, pedagógicos e de aprendizagem dos estudantes. É preciso também lidar com o baixo envolvimento dos alunos nas aulas e os altos índices de evasão escolar. E atrair o interesse dos alunos não é tarefa fácil.
De acordo com pesquisa do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), realizada em 2022, 11% das crianças e adolescentes entre 11 e 19 anos estão fora da escola no Brasil. Isso significa que aproximadamente 2 milhões de meninos e meninas nessa faixa etária estão deixando de aprender. Entre as razões que afastam os estudantes da escola, estão dificuldade financeira, falta de acesso ao transporte e necessidade de trabalhar. E, quando há oportunidade de frequentar uma escola, o desafio passa a ser o de manter os alunos suficientemente motivados para que não abandonem seus estudos. Isso porque 38% dos estudantes sentem que a escola é desinteressante e 35% não se sentem acolhidos.
É preciso, como primeira atitude, ações que alavanquem uma pauta essencial: a melhoria da educação. Afinal, não há país no mundo que tenha se desenvolvido sem a ter colocado a educação como uma prioridade. A boa notícia é que diversos estudos, pesquisas e acompanhamentos de professores em salas de aula de todo o país nos permitem afirmar que existe uma via possível para alcançarmos esse objetivo — e ela passa pela educação esportiva.
São evidentes os benefícios físico-motores que a educação esportiva promove. Entretanto, a análise destas evidências aponta que o exercício físico regular proporciona também benefícios cognitivos e socioemocionais necessários para o desenvolvimento dos alunos. Nessa linha, a educação física agrega os valores do esporte, que auxiliam na construção de habilidades necessárias para a formação escolar, como a importância de trabalhar em equipe, o quanto é preciso perseverar por meio de disciplina e treino para obter resultados e a necessidade de se comunicar para resolver problemas de socialização, por exemplo.
Reconhecendo a importância da atividade física nas escolas, a pauta ganhou reforço pela Lei Federal 14.579/23, que institui que, a partir de 2023, 25 de maio será o Dia Nacional do Desporto Escolar. A data escolhida remete à criação da Confederação Brasileira do Desporto Escolar (CBDE).
O esporte também é uma ferramenta para mitigar sintomas depressivos e dificuldades de relacionamento, promovendo autoestima e bem-estar, que impactam positivamente no desenvolvimento do aluno e podem colaborar com a redução da evasão escolar, problema que compromete especialmente quem está na etapa dos ensinos fundamental e médio. Vale ressaltar que trata-se da mesma faixa etária em que globalmente há uma drástica redução na assiduidade da prática de atividade física, sendo 80% de crianças e adolescentes entre 11 e 17 anos insuficientemente ativos, segundo estudo realizado pelo Instituto Península sobre as Evidências de Educação Esportiva.
Avaliando o cenário atual, para algumas crianças e adolescentes, o único lugar que pode oferecer oportunidades estruturadas de atividades físicas é a escola. É por esse motivo que a educação física integra o currículo da educação básica de todos os países, sendo uma disciplina obrigatória em 94% deles, segundo a Unesco. E é aqui que está o ponto sobre o qual quero chamar a atenção: existe uma oportunidade em nossas mãos — tornar a educação física uma aliada da aprendizagem e do fortalecimento da motivação dos estudantes.
No Brasil, o desafio é grande, pois enfrentamos uma realidade que consiste na redução de carga letiva de educação física em algumas escolas. Apesar de a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) contemplar o que os professores precisam trabalhar do início ao final da educação básica para garantir o desenvolvimento físico, motor e emocional dos alunos, temos ainda a complexidade de efetivar a implementação desse currículo para que alcance o maior número de estudantes.
Outra barreira que o sistema de educação enfrenta diz respeito à formação de profissionais que ministram as aulas de educação física. De acordo com o Censo Escolar de 2021, apenas 44% das escolas brasileiras possuem professores com formação específica para lecionar a disciplina. E, mais uma vez, a rede pública é quem detém o menor número de profissionais especializados para aplicar as aulas desse segmento. Dos 390 mil professores que ministram atividades físicas e esportivas nas escolas, apenas 105 mil têm formação específica para lecionar.
Essa reflexão e percepção dos benefícios acerca da educação esportiva para o desenvolvimento educacional é um convite: vamos falar mais desse tema ao longo de todos os anos e não apenas naqueles em que o mundo se une para assistir aos grandes eventos esportivos?
Saiba Mais
*Diretora executiva do Instituto Península
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