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Forças Armadas

Artigo: Dissuasão contra antagonistas não admite ideologia

"Quanto mais conheçamos as novas correntes doutrinárias de pensamento, mais as Forças Armadas brasileiras estarão cumprindo o seu papel de dissuadir antagonistas"

pri-2405-opiniao Opinão -  (crédito: Caio Gomez)
pri-2405-opiniao Opinão - (crédito: Caio Gomez)
postado em 24/05/2023 06:00

Na próxima semana, o Comando de Operações Terrestres (Coter), órgão do Exército brasileiro responsável pelo preparo e emprego da tropa, conduzirá o 1º Seminário Internacional de Doutrina Militar Terrestre. Uma autêntica atividade acadêmico-militar costumeira entre países amigos, recebeu destaque antecipado nos jornais a partir de uma equivocada elaboração conceitual de analistas externos ao evento.

Assuntos como antiacesso e negação de área (A2/AD) ou multidomínio, guerra híbrida, guerra cognitiva e guerra entre o povo, naturalmente, serão tratados nesse momento em que as grandes e médias potências se ajustam diante dos novos cenários de conflito. Desses encontros, as forças armadas dos países copartícipes tiram proveito e aplicam os ensinamentos colhidos na preparação de suas forças de defesa para a guerra do futuro.

Aqueles analistas críticos do evento defendem que tratar de multidomínio é vincular-se aos Estados Unidos. Argumento imperfeito, visto que a República Popular da China também o estuda e não se imagina que esse país queira seguir a trilha da águia americana.

A guerra híbrida, por exemplo, é estratégia aplicada pela Rússia no conflito com a Ucrânia, um conceito igualmente estudado por outros países e de igual forma não se imagina que os Estados Unidos queiram seguir o grande urso. Estabelecer uma ligação ideológica entre a elaboração desses conceitos e suas utilizações por nações mais poderosas no contexto militar global, ao tempo em que se afirma, por essa mesma ligação, um alinhamento antolhado de nosso país a esses atores é falta de visão sobre a importância da diplomacia militar na construção de um escudo sólido que nos qualifique a exercer com eficácia a defesa de nossa soberania.

Quanto mais conheçamos as novas correntes doutrinárias de pensamento, experiências aplicadas nos teatros de operações, equipamentos de emprego militar de última geração, mais as Forças Armadas brasileiras estarão cumprindo o seu papel de dissuadir antagonistas, sedentos de usufruir nossas riquezas.

Se queres a paz, prepara-te para a guerra. E nós queremos a paz. É nisso que pensa o Coter ao conduzir o seminário. Avançando na sadia discussão, a paz se constrói com o envolvimento de todos os campos do poder que devem estar colimados a uma grande estratégia de Estado.

No Brasil, não conhecemos esse documento mestre, talvez pela percepção natural de uma população que não se envolve em guerra há mais de 70 anos, talvez pela incompreensão da classe dirigente da importância em tratar responsavelmente de segurança e defesa nacionais.

Tamanha é a relevância da diretiva nos Estados Unidos, chamada de estratégia nacional de segurança, que esse é um documento elaborado pela Casa Branca e firmado pelo próprio presidente do país. A última edição foi apresentada em outubro do ano passado. Dela são derivadas as estratégias setoriais para todos os campos do poder e as orientações para as suas consecuções interna e externamente.

Eles dividem suas preocupações em várias áreas: Região do Indo-Pacífico, Alianças com a Europa, Compartilhamento da democracia com o Hemisfério Ocidental, Integração no Oriente Médio, Parcerias com a África, Manutenção da paz no Ártico e Proteção do mar, do ar e do espaço.

Em nosso país, diante da falta desse documento basilar para a segurança, defesa e desenvolvimento do Estado, a política nacional de defesa e a estratégia nacional de defesa tentam suprir as lacunas inserindo comentários de outros campos para dar coerência às ideias do campo militar.

É errôneo e leniência, aceitar que apenas o estamento militar pense segurança em todos os ramos que ela representa. É claro também que não devemos nos espelhar em propostas similares à americana para a elaboração de uma grande estratégia brasileira. Não nos atenderia e, ademais, ofenderia a Carta Magna. Contudo, a energia de analistas, gestores empresariais, organizações estatais e civis, governo e sociedade em geral precisa ser orientada a partir de uma coluna mestre a fim de que cheguemos a bom porto como país respeitado, ciente de suas possibilidades e deficiências.

Sem objetivo bem definido, não se chega a lugar algum. A elaboração de uma grande estratégia brasileira é essencial para fortalecimento do Estado e do governo. Deixo um questionamento, senhores leitores, para estímulo, análise e discussão: a quem caberia assumir a liderança dessa empreitada?

*OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS - General de Divisão da Reserva, foi chefe do Centro de Comunicação Social do Exército

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