Não! Não é possível que a humanidade não retirou nenhuma lição das filas de homens, mulheres, crianças e idosos a caminho da câmara de gás de Auschwitz; das pilhas de corpos esqueléticos jogados como lixos dentro de covas coletivas; das tatuagens de números que despersonificaram os judeus. Roubaram-lhes a liberdade, os sonhos, o próprio nome, até arrancarem-lhes a vida.
Não é possível que tenhamos nos esquecido dos negros retirados de suas famílias e de suas pátrias. Lançados em navios negreiros para serem transformados em escravos e vendidos como escambos. Coisificados. E nunca mais retornaram para suas casas e suas famílias.
Não! Não acredito que o ser humano nada tenha aprendido com a segregação abjeta, absurda e institucionalizada dos negros nos Estados Unidos e na África do Sul. Separados nos ônibus, nos banheiros, nos restaurantes, impedidos de frequentarem os mesmos lugares que os brancos, tratados como cidadãos de segunda categoria, perseguidos pela polícia e violentados em todos os seus direitos. Pendurados nas árvores dos estados sulistas dos EUA como animais abatidos. Como a música com letra de Lewis Allan eternizada na voz de Billie Holiday — Strange fruit (Fruta estranha): "Árvores do sul produzem uma fruta estranha/Sangue nas folhas e sangue nas raízes/Corpos negros balançando na brisa do sul/Fruta estranha pendurada nos álamos".
O que aconteceu no último domingo com Vini Jr., atacante do Real Madrid, foi algo tão nojento e desprezível que não cabem palavras. Cabem ações, rápidas, contra "homens" que se julgam superiores por causa da cor da pele. Quando não têm o mínimo de dignidade e de honra. Ao atleta brasileiro todo o nosso respeito, a nossa solidariedade e o nosso desejo de justiça.
As cruzes flamejantes da Ku Klux Klan fedem da mesma forma que a suástica nazista. Racistas são cúmplices do extermínio de milhões de judeus, do assassinato de negros amarrados e enforcados nos Estados Unidos, do tráfico escravagista que representou a vergonha da força do dinheiro, dos cidadãos tratados como escória pelo restante da sociedade, que se julga acima de tudo e de todos. O racismo está aí, muitas vezes escondido sob o tapete, pronto para ser escrachado na primeira oportunidade.
Precisamos eternizar a memória de Martin Luther King Jr., de Nelson Mandela, de Malcolm X, de Rosa Parks, de Luiz Gama e de Luísa Mahin, entre anônimos que doaram a vida em prol da luta pelos direitos civis. Que sejam o nosso farol em um mundo ainda marcado pelas trevas do racismo. Que eles, os racistas, tenham a certeza de que não passarão.
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