Ainda sob o impacto da perda de Rita Lee, um nome imenso da música e da cultura brasileira, estou ansioso para ter acesso a Outra biografia, o livro póstumo da amada cantora e compositora paulistana cujo lançamento, pela Globo/Amazon, estava previsto para segunda-feira (22/5) — "no dia de Santa Rita de Cássia", como sugeriu a autora.
Pelo que tomei conhecimento, a obra auto-biográfica, escrita durante os últimos três anos — período em que a eterna rainha do rock brasileiro lutava pela vida, em tratamento contra um câncer no pulmão —, seria uma espécie de despedida dos fãs.
Soube que o livro, traz um texto ora franco e cru; ora sutil e amoroso, recheado de ironia — marca registrada da artista — sem poupar nada sobre o momento que vivia. Aliás, Rita quis participar de todo o processo. Até a capa do livro, criada por Guilherme Samora, recebeu retoques coloridos da artista.
Outro lançamento — ou melhor, relançamento — feito no dia 27 último — foi o do Rita Lee, comemorativo dos 40 anos do LP, que se tornou popularmente conhecido como Lança perfume, em razão do grande sucesso da música de abertura. Este disco que saiu pela Polygram (hoje Universal Music) foi um dos 15 em que a cantora teve ao seu lado o guitarrista, compositor e marido Roberto de Carvalho. Entre esses álbuns há, inclusive, dois que trazem no título o nome de ambos.
Rita Lee e Roberto de Carvalho se conheceram em 1976, apresentados por Ney Matogrosso, que, à época, tinha o guitarrista entre os músicos de sua banda, na turnê do show Seu tipo. Durante 47 anos o casal teve uma vida plena, enquanto artistas, parceiros musicais e, claro, amantes — no que essa expressão possa trazer de mais representativo.
Em canções que compuseram juntos, sem pejo e pudicícia, eles escancararam a intimidade. Isso pode ser observado, por exemplo, nos hits Caso sério, Chega mais, Flagra, Mania de você e, principalmente na icônica Lança perfume. Num trecho da letra há um verso em que o erotismo é levado às últimas consequências: "Me vira de ponta-cabeça/ Me faz de gato e sapato/ Me deixa de quatro no ato/ Me enche de amor..."
Roberto de Carvalho tem se mostrado inconsolável com o fim dessa linda história de amor. Mesmo amparado pelos filhos Beto, João e Antônio Lee, não consegue abafar a tristeza. São comoventes as declarações dele sobre Rita, que reverberam pelas plataformas digitais. Numa delas afirmou: "Estive sempre perto de uma pessoa iluminada, cheia de vida, cheia de criatividade e de alegria. Fui um privilegiado".
João Lee, o filho meio, atribuiu a si a missão de organizar e divulgar o legado da mãe que reúne, além de a Outra biografia, séries, documentários, filmes e composições inéditas — entre elas Change, com letra em francês e inglês. Foi ele, ao lado do pai, quem, zelosamente, cuidou da mãe durante todo o período da enfermidade.
Comovida, a família está atenta às homenagens e manifestações de carinho que Rita Lee, mui merecidamente, vem recebendo, principalmente dos fãs, nas mídias impressa e eletrônica e, também, nas redes sociais.
Fico na esperança que a eterna Santa Rita de Sampa permaneça viva na memória afetiva dos que cultuam suas composições, seu canto, seu espírito rebelde e contestador e seu astral avassalador. Com carinho e determinação Roberto de Carvalho, com certeza, irá se mobilizar, ainda mais, para que isso ocorra. Da minha parte, assim será.
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