Uma das formas mais eficazes de liberar uma angústia represada é movimentar o corpo. Digo para os meus amigos que caminhar é revolucionário. Tão fácil, mas tão incrivelmente libertador. Mover o corpo move também outras coisas em nós. Move inclusive a dor. Ela sai pelos poros também.
Pensava nisso enquanto caminhava neste sábado pelas quadras de Brasília, uma rotina sagrada minha. Às dores da semana — sim, dores sempre estão presentes e fazem parte da vida —, somava-se uma que não conhecia: a perda de Joey, nosso cãozinho, que conviveu conosco por 19 anos.
Engraçado que tantas vezes as pessoas subestimam essa perda, como se o luto por um animal não fosse legítimo ou tão intenso quanto a morte de alguém da família. Acho que a comparação pode soar esdrúxula, mas dor é coisa que não se julga pela régua do outro. Cada um tem a(s) sua(s) e cultiva como quer. Eu busco transformar em memória ou experiência boa.
Joey partiu. Tantas pessoas, amores, amigos, vivências partem todos os dias. Partem também nossas certezas diante do mundo e das coisas da vida. A gente também se abandona diariamente, se entrega para os afazeres, para as bobagens e inutilidades. Caminhar me resgata, me faz retornar ao centro de mim. E, então, Joey já não é passado, nem sequer partiu. Segue aqui comigo. Bora, companheiro, que ainda tem muita estrada para andar. E é pra frente que se anda.
Podemos pensar o mundo como um caminho. E caminho pode ser rota de fuga ou o rumo do sucesso. Mas a verdade é que isso importa pouco. Nesse mundo tão estranho em que estamos vivendo o negócio é andar para frente, curtindo a trajetória, coletando experiências e alimentando a si próprio e ao outro de bons propósitos, intenções e vivências.
Como aprendi no Caminho de Santiago, só precisamos levar o básico, o que conseguimos carregar. E, no percurso, vamos deixando o que for pesado, inclusive culpas, raivas, angústias, ansiedade e tudo o mais que não nos leva a lugar nenhum. O que você deixaria no caminho hoje?
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