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Artigo: 50 anos de resistência saharaui pela liberdade

O povo saharaui que vive no Saara Ocidental é pacífico. Começou sua luta pela liberdade no final dos anos 1960, criando a Organização Avançada para a Libertação do Saara

Ahamed Mulay Ali Hamadi -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Ahamed Mulay Ali Hamadi - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
postado em 20/05/2023 06:01

Ahamed Mulayali Hamadi - Diplomata saharaui e representante da Frente Polisario para o Brasil 

O povo saharaui que vive no Saara Ocidental é pacífico. Começou sua luta pela liberdade no final dos anos 1960, criando a Organização Avançada para a Libertação do Saara. Uma organização que buscava chegar a um acordo com o ditador espanhol Franco para, em um tempo limitado, dar-nos nossa liberdade e independência. A resposta foi o massacre da manifestação em 17 de junho de 1970. A Espanha buscava transformar nosso país na província 53, devido a dois pontos: as grandes riquezas descobertas e como base de segurança para as Ilhas Canárias.

Por seu lado, a França não estava interessada na existência de um Estado de língua espanhola no norte da África, que era seu feudo. Assim, manobrou-se para a eliminação de nosso povo e a partilha de nosso país entre Marrocos e Mauritânia, enquanto a Espanha teria uma boa participação na exploração de nossas riquezas.

Diante da resposta bélica do colonialismo espanhol, o povo saaraui não teve outra escolha senão recorrer às armas. Em 10 de maio de 1973, os saarauis decidiram criar seu movimento. Nesse dia, foi organizado o primeiro Congresso de criação da Frente Popular de Libertação de Saguia el Hamra e Rio de Oro (Polisario). Foi decidido um programa popular orientado para a luta armada. Seu primeiro slogan foi "Com o fuzil conquistaremos a liberdade".

Dessa forma, um grupo de 16 homens, com vários fuzis, ataca uma guarnição militar espanhola em 20 de maio de 1973, dando início à Revolução Saaraui, que é conhecida hoje como a República Árabe Saaraui Democrática ou Saara Ocidental.

A Revolução de 20 de maio, cujo 50º aniversário estamos comemorando, tornou-se uma chama de esplendor. Um evento anual histórico e um bastião dos sacrifícios, sucessos e vitórias, bem claras em nível internacional.

A Revolução Saaraui, além de enfrentar o colonialismo espanhol, teve que lidar com a invasão militar: pelo norte, o Exército do Reino de Marrocos e, pelo sul, o Exército mauritano. O Exército saaraui, composto por cerca de 2 mil combatentes com fuzis, camelos e pouca experiência, acompanhados pela justiça e pelo conhecimento de sua terra, enfrentou mais de 250 mil soldados armados até os dentes por França e Estados Unidos.

O Reino de Marrocos iniciou sua invasão em nossas terras com a chamada Marcha Verde, e o exército perseguiu os saarauis pelo deserto com armas pesadas e bombas de napalm e fragmentação, proibidas internacionalmente, em um massacre pouco conhecido.

Os saarauis na zona ocupada, cercados pelo Muro da Vergonha, estão nas mãos do Majzén, a Gestapo marroquina. Mais de 600 pessoas desaparecidas, centenas de encarceramentos, torturas nas ruas, desemprego, entre outras calamidades que nossa gente vive nos territórios ocupados.

O Movimento Saaraui enfrentou dois grandes problemas: salvar o que puder da população e continuar a luta armada. Debilitado, o Marrocos concordou em negociar e um plano de paz foi assinado em 1991, entre a Frente Polisario e o Marrocos. Em outro momento, o reino retirou a sua assinatura e os saarauis tiveram que retomar as armas, embora o governo saaraui tenha declarado aceitar participar de novas negociações.

Entre os mais importantes sucessos, estão:

1) A consolidação do Estado Saharaui como membro fundador da União Africana e com mais de 30 embaixadas; reconhecimento de mais de 84 países.

2) A organização de um Estado com a sua constituição e leis.

3) A eliminação do analfabetismo, a criação de programas para o bem-estar, a garantia da saúde e ensino a todos.

4) A vitória em sentenças e opiniões da Corte Internacional de Justiça, da ONU, dos tribunais africanos, do Tribunal de Justiça Europeu, assim como em centenas de resoluções que lhe dão o direito à autodeterminação e independência, entre outros.

Infelizmente, diante da fraqueza das Nações Unidas e da espera de mais de 40 anos, os saharauis foram forçados a voltar às armas em 13 de novembro de 2020 devido à violação do acordo de cessar-fogo por parte do Marrocos. Entretanto, estão dispostos a negociações, desde que o seu direito à autodeterminação e independência seja respeitado.

Por último, apela-se à comunidade internacional e à sociedade civil para fazer um esforço e prestar atenção à situação dos direitos humanos nas áreas ocupadas pelo Exército marroquino, pôr fim à ocupação do território saharaui e libertar a última colônia da África.

 


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