"Ainda não havia para mim Rita Lee/ A tua mais completa tradução...". Caetano Veloso sabia muito bem o que estava dizendo, ao se referir à cantora e compositora paulistana, nascida no tradicional bairro Vila Madalena em Sampa — um clássico de sua obra.
O artista baiano, que dividiu com Gilberto Gil a liderança da Tropicália, conhecia bem a amiga, que também participou do movimento, enquanto integrante dos Mutantes. Eles se aproximaram durante o histórico Festival da Record de 1967, quando a banda acompanhou Gil em Domingo no parque.
Rita, que levou o país a entristecer-se profundamente, ao partir para outra dimensão, na terça-feira da semana passada, deixou perpetuado uma rica obra musical, registrada em 20 discos. Das canções que formam esse grande legado, várias fazem referência a São Paulo, cidade que, à sua maneira, ela tanto amou.
Bastou ativar a memória e fazer uma breve pesquisa para chegar a algumas composições com a assinatura da rainha do rock brasileiro. Em Lá vou eu, cantou: "Na medida do impossível, tá dando pra se viver/ Na cidade de São Paulo/O amor é imprevisível/ Como você? E eu? e o céu".
No final da letra da pouco conhecida Vítima, afirma: "Do meu esconderijo no milésimo andar/ Espio noite e dia sua vida secreta/O frio de São Paulo me faz transpirar". Num dos versos de Vírus do amor, composta à época de epidemia do HIV, escreveu: "Aqui estamos nós/ Turistas de guerra/ Bizarros casais/ Restos imortais do Ibirapuera" — parque que era um dos lugares preferidos dela na capital paulista.
Orra meu!, expressão tipicamente paulistana, deu título a outra música da compositora, que em trecho da letra se refere ao bairro de Pompéia: "Nunca fui de muito papo/ Sei que meu negócio é farra/ Pego na guitarra e não largo até a Pompéia (bairro em que Rita conheceu Sérgio Dias e Arnaldo Baptista, companheiros nos Mutantes).
"Desvairada paulicéia/ Virgem e mártir e toda genitália" é um resumo de Santa Rita de Sampa, canção que com irreverência, — sua marca registrada — Rita Lee via a metrópole, pela qual era apaixonada e onde sempre viveu.
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