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G-7

Artigo: Medo do fantasma

O presidente Lula está apaixonado pela política externa. É apaixonante mesmo. Acontece que no sistema presidencialista brasileiro não há a figura de um executivo que governe segundo as diretrizes presidenciais

 08/05/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Brasil. Presidente Lula na CerimÃŽnia de sanção ao PL 8131/2017, que institui a Política Nacional de Saúde Bucal no âmbito do Sistema Ã?nico de Saúde (SUS), e retomada do Brasil Sorridente. Com a presença da Ministra da Saúde Nísia Trindade e da Primeira Dama Janja.  -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
08/05/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Brasil. Presidente Lula na CerimÃŽnia de sanção ao PL 8131/2017, que institui a Política Nacional de Saúde Bucal no âmbito do Sistema Ã?nico de Saúde (SUS), e retomada do Brasil Sorridente. Com a presença da Ministra da Saúde Nísia Trindade e da Primeira Dama Janja. - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
postado em 15/05/2023 06:00 / atualizado em 15/05/2023 17:22

André Gustavo Stumpf - Jornalista

O presidente Lula irá ao Japão na próxima semana participar da reunião do G-7, que é o encontro dos representantes das maiores economias do mundo. É importante aparecer nas fotos e ter a oportunidade rara de reuniões bilaterais com os líderes de diversas regiões do mundo. No final deste mês, ele receberá em Brasília presidentes dos países sul-americanos para discutir maior integração entre os mercados e, possivelmente, o assustador crescimento da extrema direita no continente. Como fazer para reverter a aparente tendência que está massacrando os políticos chilenos, argentinos e colombianos.

O presidente Lula está apaixonado pela política externa. É apaixonante mesmo. O mundo está sempre em transformação e os valores mudam de peso e importância com enorme velocidade. Acontece que no sistema presidencialista brasileiro não há a figura de um executivo que governe segundo as diretrizes presidenciais. Neste momento, a política nacional está entregue aos extremos fuxicos no Congresso em Brasília e às discussões que se revezam entre Nova York e Lisboa. Os brasileiros ficam sabendo das novidades pelos correspondentes internacionais.

O Congresso não aprovou até agora nenhuma das medidas que o governo Lula solicitou. Nada. As discussões se sucedem sobre assuntos menores e os ministros vão ao Parlamento para serem confrontados, xingados e responderem com ironias. Enquanto isso, o presidente e sua flamejante primeira-dama desfilam pelos principais palcos do mundo. Discursa sobre guerra na Ucrânia com a mesma facilidade com que didatiza sobre a selva amazônica e se socorre criticando as elevadas taxas de juros praticadas no mercado interno brasileiro. Mas não anuncia obras nem decisões concretas. Sua principal obra até agora foi a retirada das grades em frente ao Palácio do Planalto. Cercas não combinam com a democracia, sentenciou.

Governos existem para governar, não para contar histórias. Uns dos truques mais utilizados pelas lideranças políticas é o de trocar o presente pelo futuro. No tipo: vamos fazer um sacrifício agora para receber melhor no futuro. São trocas que não funcionam porque governos são maus pagadores, e políticos não costumam ter memória. O governo Lula 3 está com dificuldades com sua base política. O PT raiz não concorda com a porção liberal embutida na administração. E tenta desfazer a legislação liberal aprovada no governo Temer.

Gasta-se tempo e conversa para tentar fazer a roda da história girar ao contrário. Perda de tempo, segundo o presidente da Câmara, Arthur Lyra, em entrevista a repórteres brasileiros em Nova York. O governo garante respeito às leis para tentar dar garantias ao eventual investidor nacional ou internacional. Mas o presidente convida o chefe do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra para viajar junto com ele para Pequim, na China. E as invasões de terra pelo MST se multiplicam pelo país. As negociações com o Congresso Nacional também não resultaram em nada de positivo. O grande articulador político não tem sido bem representado nas conversas. E o governo perde votações importantes.

Os governos de esquerda na América Latina são muito parecidos. Todos têm a mesma característica de conviver com inflação elevada, alto endividamento, economia atrasada, baixo nível de escolaridade. No Brasil, na Argentina ou em em outro país, pode se perceber a ocorrência dos mesmos problemas. Os nomes podem mudar, mas os efeitos são os mesmos. Esse cenário provoca o surgimento de figuras tipo Bolsonaro, que a princípio negam a política e depois se deliciam com ela. O roteiro é conhecido. Não é original. Hitler foi eleito depois da grande inflação alemã. O meio mais eficaz de combater a extrema-direita é montar governos eficientes que atendam as reivindicações da população. Menos discurso e mais ação.

O discurso direitista é construído pela ruína da esquerda. Ninguém pode esquecer que o fenômeno Bolsonaro foi criado no Brasil pelo desastre da administração PT no governo Dilma. O país afundou numa recessão pesada por consequência dos seguidos e profundos erros da equipe econômica da ex-presidente que hoje está exilada na presidência do Banco do Brics, em Xangai, na China. O governo atual, que foi eleito numa composição de forças e venceu por menos de 2% a eleição, não deve perder de vista sua precária posição política. Se o governo Lula permanecer na atual inação e não avançar na satisfação das reivindicações populares, estará chocando o ovo da serpente. Extrema-direita sempre existiu. No Brasil, recentemente, seus líderes tiveram a coragem de mostrar a face e os objetivos. O fantasma, portanto, é conhecido: tem nome e endereço.

 


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