"Adoraria saber como cada um de vocês se conectou com minha mãe", pediu João Lee, o filho em busca de um memorial vivo, feito de testemunhais dos fãs. Não é um pedido difícil, João. São tantas as lembranças boas, que vão sendo desfiadas à medida que ouvimos canções da sua mãe. Rita salvou muitos momentos tristes e elevou os alegres. Com sua verve única, autêntica, verdadeira, mais do que feiticeira, ela foi o feitiço.
O feitiço da palavra e da atitude. Do feminismo vivido, não o do discurso. Ela foi a encarnação de um jeito de viver criativo, alegre e doce, apesar de transgressor. Fada ou santa, bruxa raiz, Rita nos apresentou a loucura boa e sadia de dizer o que se pensa; de fazer o que se quer. Sabemos o quanto isso é revolucionário para uma mulher.
Rita é o feitiço contra a caretice, o preconceito, a chatice. Sua liberdade enfeitiça e essa bruxaria nos toma por completo, seja ouvindo seus hinos, suas entrevistas, seja lendo o que escreveu. No epitáfio que deixou pronto, a frase: "Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa". Irônica, mas também humilde. Rita, você foi o melhor dos exemplos.
Nos comentários no post de João, até sábado, mais de 13 mil mensagens contavam histórias, resgatavam músicas, CDs, LPs, fitas K7, shows, frases, entrevistas, encontros, cartas. Tudo embalado por emoções genuínas, que narravam sobretudo como Rita encantou gerações. De avós para netos, de mães para filhas. São muitas histórias bonitas, não apenas de conexão com Rita, mas de conexões que ela proporcionou entre outros. Eis o feitiço. Ele fica, mesmo se ela vai.
Pensei no meu hino. Rita me atravessou tantas vezes no decorrer da vida. Cantei e dancei muito ao som das suas baladas e rocks. Agora só falta você é uma das minhas preferidas. "No ar que eu respiro/Eu sinto prazer/De ser quem eu sou, de estar onde estou"...
Vivendo o presente, sinto o prazer de quem eu sou, e devo muito a Rita Lee, assim como todas nós, mulheres em especial, devemos a Rita esse ímpeto de coragem e honestidade de sermos exatamente o que somos, da forma como escolhermos, do jeito que quisermos. O feitiço de Rita é este: a transgressão de ter a si mesmo e ser feliz com essa aquisição única. Não temos nem teremos nada além disso. E ela sabia.
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