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EDITORIAL

Visão do Correio: Jogo limpo no futebol

"O Brasil já não é mais unanimidade dentro das quatro linhas pela qualidade dos times. Imagine se um escândalo de apostas for contabilizado no placar"

Times disputam permanência na série A do brasileirão  -  (crédito: Reprodução/Freepik/PORNSAWAN)
Times disputam permanência na série A do brasileirão - (crédito: Reprodução/Freepik/PORNSAWAN)
postado em 11/05/2023 06:00

Por determinação do ministro da Justiça, a Polícia Federal vai investigar a denúncia de manipulação de resultados no futebol brasileiro. As suspeitas de que jogadores profissionais estariam atuando deliberadamente para beneficiar apostadores on-line motivaram a abertura da Operação Penalidade Máxima, conduzida pelo Ministério Público de Goiás. As primeiras diligências apuram a participação de, ao menos, 16 jogadores, mas as informações coletadas até aqui pela polícia já indicam o envolvimento de uma centena de atletas.

A situação adquiriu tal gravidade que a própria Confederação Brasileira de Futebol pediu a intervenção da Polícia Federal. Não poderia ser diferente. Não é preciso ser torcedor fanático para perceber as consequências de uma fraude no esporte mais popular do Brasil. Caso comprovada a manipulação de lances nas partidas, o futebol pode enfrentar, fora dos campos, uma perda de credibilidade que afeta clubes, profissionais e toda a cadeia econômica que se forma em torno do que acontece nos estádios.

Antes mesmo de a Polícia Federal entrar em campo, as autoridades já se mostravam atentas para regulamentar o mercado de apostas on-line. A primeira iniciativa partiu do Congresso Nacional. Em março, foi protocolado o pedido para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara a fim de averiguar as denúncias levantadas pela Operação Penalidade Máxima. Paralelamente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que o governo pretende tributar os sites de aposta. Segundo estimativas do governo, a cobrança de impostos geraria uma receita de R$ 10 a R$ 15 bilhões para os cofres públicos.

Considerando-se o contexto, não resta dúvida. É preciso jogar às claras. Faz-se fundamental realizar uma profunda investigação e uma ampla regulação sobre as atividades ligadas ao futebol profissional, ante o acúmulo de suspeitas sobre a lisura das competições e as lacunas evidentes no mercado de apostas online. Essas medidas de transparência e correção são essenciais, não apenas porque combatem uma ilegalidade, mas também porque trazem benefícios à sociedade.

A regulamentação do mercado online de apostas, além de reforçar o caráter legal dessa atividade, pode trazer ganhos para as próprias casas especializadas. Se o modelo se apresentar confiável, é grande a possibilidade de atrair mais interessados, auferindo mais lucros para os organizadores e o pagamento de prêmios maiores. Do ponto de vista do governo, os impostos arrecadados por esse segmento podem financiar políticas públicas relevantes, tal como acontece com as loterias administradas pela Caixa Econômica Federal. O dinheiro proveniente das lotéricas é uma importante fonte de recursos para entidades esportivas como o Comitê Olímpico do Brasil, ou iniciativas como o Fundo Nacional da Cultura.

Em relação ao futebol, a história mostra que o esporte já sofreu duras derrotas em razão de malfeitos cometidos no universo da bola. Basta recordar o escândalo de corrupção que derrubou ninguém menos que Joseph Blatter, ex-presidente da entidade máxima do esporte, a poderosa Federação Internacional de Futebol (Fifa). Do mesmo modo que não podem fazer uso de estratagemas como doping para disputar competições, os clubes, jogadores e federações precisam afastar qualquer suspeita de manipulação de resultados ou lances em partidas. O prejuízo é claro.

O Brasil já não é mais unanimidade dentro das quatro linhas pela qualidade dos times. Imagine se um escândalo de apostas for contabilizado no placar.

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