NULL
OPINIÃO

Patrick Selvatti: "Prevenir ainda é o melhor"

"A consciência que adquirimos como adultos não se converte automaticamente em prudência"

Homem com a Arcturus tem esquema vacinal completo e tomou a bivalente    -  (crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Homem com a Arcturus tem esquema vacinal completo e tomou a bivalente - (crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil)
postado em 08/05/2023 06:00

É melhor prevenir do que remediar. Ainda criança, eu não entendia essa expressão. Acostumado a ser medicado sempre que adoecia ou me machucava, em minha inocência, eu acreditava que nada poderia ser melhor para a cura do que o remédio — ainda que ele geralmente viesse com um gosto nada agradável ao paladar infantil.

Demorei um pouco a conceber o significado da palavra prevenção mas, ainda assim, ela veio com aquele peso inerente de podação. Não correr para não cair, evitar friagem e bebida gelada para não resfriar, comer menos doce para não ter dor de dente — limitações que a garotada considera uma chatice e não leva a sério. "Quando for maior, você vai entender a importância de se cuidar", dizia minha mãe. Mas a gente cresce, e não muda muita coisa.

A consciência que adquirimos como adultos não se converte automaticamente em prudência. Dormimos pouco, abusamos do trabalho, comemos errado, fumamos, ingerimos álcool além da conta... ou seja, zero prevenção. Vem aquela enxaqueca, o mal estar físico, a tristeza, e lá vamos nós buscar apoio no remédio. Nada contra o uso de medicação, mas a nossa vida seria bem mais saudável se colocássemos em prática o hábito da prevenção.

De certa forma, há de se admitir que, a grosso modo, nós adotamos uma espécie de negacionismo. O surto de covid-19 deveria ter nos ensinado a importância da precaução. Da noite para o dia, nos vimos confinados em casa, usando máscaras faciais e higienizando as mãos com álcool gel. Isso nos ajudou a evitar o contato com o vírus mortal, enquanto aguardávamos uma vacina. Ela veio, fomos imunizados e, aí, começamos a relaxar novamente, retomando o contato físico, liberando os rostos, deixando de lavar as mãos. Desleixamos.

Na semana passada, veio oficialmente a notícia que tanto sonhamos: a doença que levou a óbito milhões de pessoas ao redor do mundo deixou de ser considerada uma emergência sanitária global. Logo, os mais apressados — grupo no qual me incluo — vibraram: é o fim da pandemia. Foi como se o anúncio da Organização Mundial de Saúde (OMS) viesse com o salvo-conduto para o afrouxamento absoluto dos protocolos preventivos. Contudo, o vírus causador da covid-19 não foi erradicado do planeta.

A mudança no cenário epidemiológico não significa o fim da circulação do novo coronavírus, e há fortes indícios de que novas variantes aparecerão. Após o anúncio da OMS, o Ministério da Saúde alertou: é preciso prosseguir com a campanha de imunização em massa, para que a população seja efetivamente protegida. Ainda assim, as vacinas — que amenizam os sintomas da doença, evitando consideravelmente as ocorrências fatais — não impedem a infecção viral.

O negacionismo se reflete também nesse impulsivo fechar de olhos para a necessidade de seguir com os cuidados sanitários. Até porque, em relação à covid-19, só nos resta prevenir. Afinal, o remédio para a cura eficaz da doença — como aquele que a gente administra diante de uma dor de dente ou do joelho ralado — ainda não veio.    

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

-->