Na última sexta-feira, a Organização Mundial de Saúde decretou o fim da emergência global provocada pela pandemia de covid-19. O anúncio trouxe um certo alento à humanidade, passados 40 meses da calamidade sanitária que se abateu sobre o planeta. Para quem ainda tem dúvidas sobre o impacto da covid-19, os números falam por si: oficialmente, o novo coronavírus matou 6,9 milhões de pessoas no mundo. Só o Brasil, que tem menos de 3% da população mundial, responde por aproximadamente 10% do morticínio. É uma fileira de 701 mil caixões, como mostraram as traumáticas imagens em Manaus ou em São Paulo. Na maior metrópole do país, apenas um cemitério abrigou 2 mil mortos por covid-19.
Encerrado o período crítico da pandemia, convém guardar preciosas lições sobre esse longo e doloroso processo. O primeiro ponto: é preciso combater com todo o rigor o negacionismo. A vilania de um governo e de seus seguidores que buscaram, por meio de mentiras, confundir a opinião pública com questionamentos infundados sobre a eficácia das vacinas, contribuiu enormemente para a letalidade da pandemia no Brasil. E os efeitos dessa irresponsabilidade ainda estão presentes: o país enfrenta, neste momento, uma baixíssima cobertura vacinal não apenas para a covid-19, mas para outras doenças graves, como poliomielite. Impõe-se, assim, a necessidade de punir aqueles que tentaram enganar os brasileiros sobre os esforços para combater a doença que durante meses matava milhares por dia.
Segunda lição: é preciso fortalecer a saúde pública no Brasil. São méritos inquestionáveis a coragem e a determinação dos profissionais do Sistema Único de Saúde que puseram a vida em risco para atender, durante meses, pacientes com toda sorte de dificuldades provocadas pela covid. Nada mais justo e necessário do que aprimorar um sistema que ofereça a qualquer cidadão brasileiro um atendimento médico de qualidade. Não fosse o SUS, apesar de todos os problemas, a pandemia de covid-19 no Brasil assumiria proporções ainda mais horripilantes, tais quais os versos de Dante para descrever o inferno.
Mas não há apenas tristes notas no legado da pandemia. O sofrimento causado pela doença despertou o sentimento de empatia em uma parcela significativa da sociedade brasileira. Tornaram-se comuns as mobilizações para ajudar aqueles que foram severamente atingidos, particularmente pelos efeitos econômicos do desemprego e da fome. São memoráveis ainda as iniciativas, ocorridas nos hospitais de todo o país, para reconfortar os pacientes que passavam semanas ou até meses em dolorosa batalha contra o patógeno. O brasileiro é solidário, mostrou a pandemia. Roga-se que ele nunca apague esse traço positivo de caráter.
Como já mencionado acima, a covid-19 cobrou um preço alto do Brasil. Mais de 700 mil vidas foram sacrificadas. Esse número poderia ter sido menos trágico se as autoridades de ocasião e seus sectários tivessem respeitado a ciência e deixado de lado tanta mesquinharia e ignorância. O país ainda tem chance de sair melhor da impiedosa batalha contra a covid-19. Corrijam-se os erros, punam-se os criminosos. E trabalhemos na reparação dos profundos danos sanitários, econômicos e sociais deixados pela pandemia. Aprender, sempre. Esquecer, jamais.
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