Fiz uma rápida pesquisa na aba departamento de futebol profissional do Corinthians a fim de saber quem é o responsável pela psicologia na comissão técnica de quase 60 colaboradores. Se o site não estiver desatualizado, apurei que simplesmente não há. Isso é um problemão. Em 1998, na primeira passagem de Vanderlei Luxemburgo pelo clube, o professor contava com a consultoria de Suzy Fleury. Não abria mão da força mental no projeto. Em momentos tensos, ela pacificou relacionamentos como o de Luxemburgo com Marcelinho Carioca. Bom da cabeça, o time alvinegro conquistou o Brasileirão no semestre em que o treinador acumulou as pranchetas do Corinthians e da Seleção Brasileira. Luxa foi, inclusive, diagnosticado com estresse agudo.
O Corinthians virou um "bando de loucos" sem divã. O time mostrou na derrota por 2 x 1 para o Independiente del Valle, na última terça-feira, que precisa urgentemente de terapia. Está doente dos pés à cabeça. Estresse agudo. Os discursos depois da partida são assustadores. Maior ídolo em atividade do clube, o goleiro Cássio desabafou fez o diagnóstico da crise: "Psicologicamente é difícil, o time está no limite já. Não tem o que falar, é ficar quieto".
Maycon é outro sintoma do estresse agudo. Vilão no lance do gol da vitória do Independiente del Valle, ele foi às lágrimas. Victor Cantillo assumiu o papel de consolá-lo no banco de reservas. O clube precisa cuidar de Maycon. Quem cobra, esquece. Esse jogador saiu correndo da Ucrânia com a família no início da guerra declarada pela Rússia. Ele e outros jogadores ficaram reclusos num hotel em Kiev, enquanto o exército de Vladimir Putin bombardeava a capital e Donestsk, onde ele defendia o Shakhtar.
Luxemburgo não é psicólogo, óbvio, mas, repito, trabalhou com profissionais como Suzy Fleury e teve sensibilidade para apresentar o laudo do problema. "A análise é que tenho um grupo de qualidade, mas que está para baixo pela instabilidade", ponderou o treinador.
A diretoria traumatizou o elenco. É impossível trabalhar em paz com tantas decisões inconsequentes. De 2020 para cá, o plantel foi comandado por Tiago Nunes, Vágner Mancini, Sylvinho, Vítor Pereira, Fernando Lázaro, Cuca e Vanderlei Luxemburgo. "Precisamos ter consistência, não ficar mudando toda hora", cobrou o goleiro Cássio.
Beira o absurdo clubes gigantes como o Corinthians escantearem a psicologia do esporte. A ginasta estadunidense Simone Biles, a tenista japonesa Naomi Osaka e o surfista Bruno Medina mostraram recentemente a importância da saúde mental no alto rendimento. Tite recusou esse profissional em seis anos e meio na Seleção. O torcedor raiz dirá que isso é frescura, que o time precisa é jogar bola. O divã contribuiu para que isso aconteça. Luxemburgo chega ao Corinthians com o auxiliar Mauricio Copertino e o preparador físico Antônio Mello para trabalhar com ele. Recomenda-se o acréscimo de um profissional da psicologia à folha de pagamento. Pra ontem.
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