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EDITORIAL

Visão do Correio: Na fila do transplante, 50 mil brasileiros

Coração
doação de orgaos
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médico
cardiovascular -  (crédito: Freepik)
Coração doação de orgaos orgaos médico cardiovascular - (crédito: Freepik)
postado em 04/05/2023 06:00

Cerca de 50 mil brasileiros estão na fila por um transplante, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Os pacientes dependem deste gesto de solidariedade e de humanidade para prorrogar o tempo de vida. Em contrapartida, no ano passado, mais de 45% dos familiares não autorizaram a retirada de órgãos do ente querido que foi a óbito, conforme os dados do Ministério da Saúde. No Distrito Federal, quase 700 pessoas aguardam por um transplante para recuperar a saúde, a maioria delas por problemas renais. Em Minas Gerais, na fila estão 6.280 doentes — 378 casos a mais do que em 2022.

Para alguns especialistas, a ausência de campanhas de esclarecimento é o que motiva a rejeição dos familiares à possibilidade de doar os órgãos do parente morto. Diante da alta demanda, em 27 de setembro último, o Ministério da Saúde lançou uma campanha para sensibilizar os brasileiros a manifestarem o desejo de doação de órgãos e também as famílias ante a morte de parente querido, apesar da dor e do sofrimento causado por essa perda.

O Dia Nacional de Transplante de Órgãos e Pele, 27 de setembro, foi instituído em 2007, pela Lei nº 11.584, a fim de conscientizar a sociedade sobre a importância desse gesto e deu a cor verde a setembro e à campanha, que deve ser intensificada nesse período do ano. Mas é a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento. Impõe regras, exige a autorização dos familiares ou a manifestação por escrito ou oral do doador quando em vida. A lei estabelece ainda sanções penais a quem remover órgãos sem consentimento dos parentes.

A legislação brasileira normatiza cada etapa do procedimento da coleta de órgãos. Não há possibilidade de desfiguração do morto. Pelo contrário, a intervenção ocorre de modo que a aparência da pessoa seja preservada. A preocupação é evitar que os familiares guardem a lembrança do doador, como sempre o viram enquanto em vida. Há parentes que recorrem a argumentos religiosos para negar a doação de órgãos. Porém, nenhuma denominação de fé é contrária ao procedimento, quando a vida está ameaçada. No país, o sistema nacional de transplantes inclui 648 hospitais, 1.253 serviços e 1.664 equipes de transplantes habilitados.

Se os pacientes que dependem de um transplante sofrem com a espera por doadores, os que foram transplantados enfrentam dificuldades de acesso aos medicamentos que devem ser fornecidos pela farmácia de alto custo, necessários para preservar o êxito da cirurgia. A crise no fornecimento de remédios para os transplantados deveu-se ao corte de 59% no orçamento da Farmácia Popular no ano passado. Cerca 44% dos pacientes não conseguiam tomar a medicação indicada, que é produzida pelos laboratórios brasileiros. A restrição orçamentária afetou o ritmo de produção de fármacos indispensáveis aos que foram operados.

Ante o drama de milhares de brasileiros que precisam de órgãos, impõe-se que a campanha seja tão frequente quanto a da vacinação, com explicações claras sobre os benefícios aos que estão doentes. Ambas recomendações contribuem para prolongar a vida de todos. É essencial que os familiares sejam esclarecidos e entendam que a perda da pessoa querida pode salvar até oito outras pessoas. Ao mesmo tempo, cabe ao poder público garantir os meios indispensáveis para os pacientes que receberam o transplante sigam vivendo normalmente. A vida é um bem supremo, por que não colaborar para adiar o inexorável momento da sua finitude?

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