Respeito e civilidade são dois ingredientes indispensáveis à democracia. Da mistura de ambos, extrai-se a liberdade de expressão e suprime-se a violência. Em um país dividido ideologicamente, como o Brasil, inverteu-se a lógica. Ignorou-se o princípio do respeito e da civilidade, para privilegiar a violência. O diálogo perdeu espaço para a agressividade, como se assim fosse possível construir consensos.
Desde a abertura dos trabalhos legislativos no Congresso Nacional, raro é o dia em que o noticiário não traz exemplos de desentendimentos grotescos entre parlamentares do Congresso Nacional, que se mostram incompatíveis com o chamado "decoro parlamentar". Não é por outro motivo que os presidentes da Câmara e do Senado reativaram a comissão de ética. Trata-se da tentativa de conter os ânimos dos deputados e senadores, considerando os lamentáveis episódios.
As imagens, exibidas em vídeos ou descritas nos meios de comunicação impressos, mostram desavenças, uso de expressões chulas e gestos que, por pouco, não culminam em agressões físicas. O ambiente conturbado antecipa o fim das sessões. Postergam-se, assim, decisões importantes ao país e que, provavelmente, colocariam um ponto final às divergências. As soluções devem resultar do bom senso. Imposições não combinam com democracia.
Os conflitos entre os parlamentares, com cenas deprimentes, revelam-se exemplos inadmissíveis. Prestam-se apenas para incitar camadas da sociedade a reproduzir mais violência. O episódio de 8 de janeiro resultou de um desses incentivos, como se o rompimento do Estado democrático significasse o fim de todas as mazelas sociais e econômicas. A história, não muito recente, mostrou que esse caminho foi um dos mais tortuosos para o país.
A pluralidade partidária traduz a característica do Brasil. As diferentes visões de mundo e as mais distintas soluções para os graves e severos problemas sociais e econômicos do país foram contempladas pelas escolhas dos eleitores. Ideologias políticas à parte, a imensa maioria dos brasileiros quer o fim da violência, em todas as suas mais diversas formas de expressão. Reivindica a eliminação da miséria, do desemprego, das desigualdades, das dificuldades de acesso aos serviços de saúde, educação de melhor qualidade e tantas outras ações de Estado que assegurem bem-estar a todos os cidadãos.
As divergências são naturais, mas não precisam resultar em agressões. No último dia 24, a comemoração dos 93 anos do ex-presidente José Sarney atraiu políticos e personalidades de diferentes matizes. O ambiente estava sereno. Notou-se que os embates foram esquecidos e prevaleceu a cordialidade entre políticos adversários. Aliás, Sarney, entre outros, é mestre na arte de unir e estabelecer harmonia entre os contrários. Talvez o nonagenário, admirado por todos, seja exemplo a ser seguido, para que o parlamento seja mais pródigo e sensato no debate e na produção de políticas públicas capazes de tornar a vida no Brasil melhor a cada dia para toda a população.
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